Coluna Wendel

Eu sou a Lenda

O horror em sua origem

 

 

“Eu sou a lenda”, livro de Richard Matheson escrito em 1954 foi uma das grandes surpresas literárias que tive em 2020. Em 2008 eu assisti ao filme com o mesmo nome, estrelado por Will Smith e dirigido por Francis Lawrence e não gostei da produção e da forma com a história foi desenvolvida.

A decepção com o filme não despertou à vontade em ler o livro na qual foi baseado. É inacreditável o que uma péssima adaptação literária faz com uma produção cinematográfica, vide “A Torre Negra” de 2017, que “simplificou” a obra magistral de Stephen King.

Foi graças a um comentário de Alexandre Callari, professor, escritor, apresentador do programa “Pipoca e Nanquim” e tradutor de altíssima qualidade que acabei lendo o livro “Eu sou a Lenda”, e que livro!

Sempre fui um aficionado por histórias de vampiros, tendo “Salem´s Lot” de Stephen King e “They Thirsty” the Robert R MacCammon como os meus livros favoritos. “Eu sou a Lenda”, conseguiu um lugar nos meus top 3, ele é um livro escrito na década de 50, mas completamente atual, um horror psicológico que nos prende a cada página. 

A gente se sente dentro da pele do protagonista, Robert Neville, o único sobrevivente de uma epidemia que transformou as pessoas em vampiros. Acompanhamos sua solidão, a dor da perda da esposa. Cada passo de sua jornada tem um realismo absurdo. É um livro que investiga a fundo a ciência por trás do vampiro; o que leva a transformação; a razão do funcionamento ou não de objetos como alho, espelhos e crucifixos nestas criaturas. O próprio Neville estuda estes questionamentos nos levando a descobertas fantásticas.

A obra publicada pela Editora Aleph tem um acabamento gráfico impecável, conteúdo extra, e uma boa tradução a cargo de Delfin.

Richard Matheson é famoso por ser o roteirista de vários episódios da primeira versão de “Além da Imaginação” e do romance “Em algum lugar no Passado”, também escreveu o livro “Hell House” publicado nos anos 80, além de dezenas de outras obras divididas entre contos, roteiros, romances e textos sobre metafísica.

Stephen King e George Romero são escritores diretamente influenciados pela obra deste autor, que fez evoluir o clima gótico existente na literatura desde “Drácula” de Bram Stoker.

Uma livro cheio de surpresas que caminha por lugares escondidos dentro da alma humana e que nos faz indagar o que nos faz seres humanos. É uma leitura que nos leva, junto ao personagem principal a uma catarse, que mesmo não tendo um desfecho hollywoodiano, nos liberta e nos faz refletir; o que somos e em que podemos nos tornar.

Nota do livro = 9.8

Wendell Stein é escritor, roteirista e jornalista colunista do Brazilian Times. e-mail wendellstein@me.com

Fonte: Redação - Brazilian Times.