Coluna: História e Cotidiano

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A ÚLTIMA PARTIDA

Queridos leitores, gostaria de compartilhar minha trajetória com vocês como Phd em história e escritora, mas também como uma pessoa comum que nasceu no Brasil, uma cidade do interior de Pernambuco chamada Cabo de Santo Agostinho.

Aos 18 fui para São Paulo, um novo mundo se abriu. A cidade que nunca dormia guardava com ela um ranço muito grande dos nordestinos, isso porque São Paulo tinha a maior concentração de nordestinos fora do nordeste de todo o Brasil. Lembro de ouvir de uma candidata a vaga de emprego que era para eu me retirar, porque segundo ela, meu lugar era cuidando das casas dos paulistas! Eu apenas olhei em seus grandes olhos azuis e a ignorei, e novamente nos encontramos no treinamento.

Aos 25 anos entrei no curso de história no Centro Universitário Nove de Julho porque fui mãe solo aos 22. Quando escrevi meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) percebi que queria ser escritora, professora, pesquisadora, formadora de opinião!

Para entrar no mestrado eu precisei ser uma das melhores para ganhar bolsa de estudos, nos 2 anos de mestrado estudei o dia inteiro, não saia da PUC/SP, assistia aulas na graduação, na especialização, no mestrado e doutorado, lia tudo que via pela frente, pesquisei nos arquivos de Pernambuco, acordava às 5 da manhã e dormia a meia noite, ... as vezes minha mente estava tão acelerada que não sentia vontade de dormir! Engajei com os projetos do Centros de Estudos de História da América Latina (CEHAL) e Observatório de Violências Policiais (OVP), com encontros de história, congressos, mesas redondas, palestras, tudo que discutisse questões de história, lá estava eu!

Fiquei tão obstinada que tive que renunciei a passeios, viagens e até meu pequeno filho sofreu minha ausência, cheguei a deixar uma amiga passeando sozinha na linda Recife porque não podia perder um dia de pesquisa nos arquivos. Depois é claro, me desculpei com ela e meu filho, mas aqueles momentos eram tão preciosos que tive que abrir mão do cotidiano entre família e amigos.

Depois do mestrado fui para Minas Gerais, trabalhei com política e na câmara legislativa de Timóteo, fiquei conhecida por mais de 4 mil alunos, professores, diretores e legisladores, foi emocionante! Fui professora universitária no Instituto Prominas no curso de especialização.

Em 2013 retornei para a PUC/SP como doutoranda e bolsista, enquanto fazia, morei por 8 meses em São José dos Pinhais – Paraná, conheci o Sul o Brasil, lá eu vi o Brasil ideal do interior, rico e desenvolvido. Até as cidades pequenas tinham uma universidade pública.

Minha última partida foi quando vim para os EUA, essa história ainda estou escrevendo, estou aqui desde 2017 e posso afirmar que o começo foi mais difícil do que todos os adeus que já dei desde meus 18 anos! Acredito que a distância, a diferença gritante de cultura e a língua sejam o primeiro impacto que recebemos. Apesar de ter estudado por longos anos no Brasil, fiquei impactada com o modelo de educação acelerado e individualizado, da altíssima cobrança que sofremos porque o visto esta atrelado ao desempenho escolar, o medo de perder o status assombra toda comunidade estudantil, alguns adoecem, outros deprimem, por isso permanecer aqui é difícil.

Aqui nos EUA eu publiquei parte do meu doutorado no livro chamado O cotidiano repressor dos agentes da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) de Pernambuco, tive a oportunidade de lançá-lo em New York, Portugal e Brasil. Aqui eu me engajei com a feira cultural Brasil e EUA, num projeto de escolinha de Português em Worcester, escrevi um capítulo de livro e ganhei dois prêmios. Estudei na Approach, na Universidade de Framinghan, Universidade de Worcester e novamente na Approach, atualmente faço parte do projeto de estudantes Embaixadores que visa treinar os estudantes para uma carreira aqui nos EUA.  Fui indicada como personalidade do ano de 2022 no jornal Brazilian Times, fui convidada para escrever esta coluna semanalmente para compartilhar com vocês algumas reflexões, histórias e saberes.  

Realizar sonhos dá trabalho, demanda tempo, persistência e convicção, porque os obstáculos vão vir, as dificuldades e medos também, então temos que ter coragem.

E você, qual é a sua história?

 

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