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Publicado em 12/09/2023 as 5:30am

O Outro Lado da História do Brasil

Samba Charlotte propõe uma reflexão sobre a História do Brasil através do samba. 7 de...


Samba Charlotte propõe uma reflexão sobre a História do Brasil através do samba.

7 de setembro: 

Liberdade para quem?

Enquanto os livros didáticos apontam 7 de setembro de 1822 como o marco da independência do Brasil, é importante mencionar várias revoltas significantes ocorreram nas décadas que precederam a Independência, como a Conjuração Baiana em 1798. Essas revoltas muitas vezes não são mencionadas na historiografia oficial do país, que acaba ofuscando a participação do negro em episódios importantes na luta contra o regime monarca e o fim da escravidão.

Além disso, mesmo depois do “grito do Ipiranga”, o estado da Bahia ainda não era independente. Ali, onde foram travadas sangrentas batalhas, a independência do Brasil é comemorada em 2 de julho, quando as tropas portuguesas foram expulsas de Salvador em 1823, consolidando a separação política entre Brasil e Portugal.

Acima de tudo, deve-se refletir sobre estas reivindicações de "Independência" e "Liberdade". Quem realmente estava livre em 1822?Sendo que a Abolição da Escravatura foi assinada somente em 1888, fazendo do Brasil o último pais a dar fim a esse cruel sistema. 

"É interessante perceber o quanto a história do Brasil é contada do ponto de vista do colonizador e do branco. A independência foi um desses momentos que atendeu apenas a uma elite, não dando conta de garantir a liberdade para a maior parte da população brasileira, os negros e indígenas", comenta o pesquisador da história negra Guilherme Soares Dias, consultor em diversidade.

"Não aprendemos sobre esses fatos desde a perspectiva do povo,e nem temos esses debates nas escolas. Revoltas como a Conjuração Baiana ocorreram em momentos efervescentes embusca à abolição no Brasil e outros países conquistando essa liberdade do povo negro. A história oficial ainda retrata apenas um lado e a gente ainda precisa buscar outras informações sobre esse período", completa ele. "Esse apagamento das lutas negras faz parte de um racismo estrutural que é resquício daquele momento em que o negro não era visto como humano e sim como coisa. A sua história, seus costumes, sua cultura, seus pensamentos não importavam, já que ele era animalizado."

A bandeira nacional do Brasil é um disco azul representando um céu estrelado (que inclui o Cruzeiro do Sul), atravessado por uma faixa inscrita com o lema nacional "Ordem e Progresso", dentro de um losango amarelo (representando o ouro), em um campo verde (representando as florestas). 

Cada estrela, correspondente a uma Unidade Federal brasileira, é dimensionada proporcionalmente ao seu tamanho geográfico. 

Na época em que a bandeira foi adotada pela primeira vez, em 1889, tinha 21 estrelas. Em seguida, recebeu mais uma estrela em 1960 (representando o estado da Guanabara), depois outra em 1968 (representando o Acre) e, finalmente, mais quatro estrelas em 1992 (representando Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins), totalizando 27 estrelas em sua versão atual.

A bandeira do Brasil ressignificada

Em 2019, o visionário designer de Carnaval da Mangueira, Leandro Vieira, homenageou as comunidades historicamente sub-representadas no país, substituindo as palavras "Ordem e Progresso" por "Indígenas, Negros e Pobres".

A Mangueira ganhou o concurso de Carnaval e muitos outros prêmios daquele ano. 

O Showcase da escola de dança Samba Charlotte, idealizado e dirigido pela paulistana Andreia Walker, tem como intuito ressaltarque o samba é muito mais do que apenas música e dança. As Escolas de Samba são capazes de transmitir mensagens poderosas e conscientizar sobre temas da sociedade brasileira. 

As canções temáticas criadas especificamente para os desfiles de Carnaval são chamadas Samba Enredo. Há letras que sãocarregadas de referências sobre eventos históricos, herança afro-brasileira, culturas indígenas, desigualdades sociais, minorias, lutas políticas e preocupações ambientais.

Por outro lado, há também muitos Enredos que foram redigidossob censura, ou sob um estado de inconsciência, onde os escritores aceitaram a narrativa oficial dos colonizadores europeus, os quais se autodeclararam "descobridores" e "heróis".

ATO 1: inconsciência

A primeira parte do Showcase compõe-se de quatro Samba Enredos que optaram por pintar um belo retrato da História do Brasil:

1) "Iracema – A Virgem dos Lábios de Mel" é um Enredo baseado no livro “Iracema” de Jose de Alencar. A bela canção composta pela Beija Flor se foca na história de amor entre Iracema e Martim, o conflito entre as tribos, e o nascimento do Moacir, o primeiro mameluco (filho de um indígena com um português). Porém, oculta um dos principais aspectos do livro, que seria reflexão sobre o processo de colonização e seu impacto no processo de exterminação da cultura dos povos originários.

“Reclamando a pureza da pele vermelha, bate o coração de Moacir / O milagre da vida me faz um mameluco na Sapucaí”

2) "Liberdade" retrata os monarcas portugueses como heróis e salvadores do povo negro. Atualmente, este Enredo é considerado ilusório, pois apesar de ter uma bela melodia, falha em mencionaros verdadeiros heróis da história do Brasil.

 “E da princesa Isabel, a heroína, que assinou a lei divina | Negro dançou, comemorou o fim da sina”

3) "Mineirinho Genial" elogia um brasileiro que teve a oportunidade de viajar para Portugal, se formou e se tornou conselheiro do rei. A canção chama esse homem privilegiado de "vencedor" na vida. Embora não haja nada de errado em obter uma educação e uma carreira de sucesso, a letra sugere que o valor de uma pessoa se mede pelos padrões europeus. Ele foi “um vencedor” porque se igualou aos portugueses. Mas o que será que significa “vencer na vida” para um índio, ou para um negro?

“Um homem de real valor, um vencedor na estrada da vida (...) Atravessou o mar no afã de conquistar, conhecimento em terras lusitanas | Brilhou aos olhos da lei, formou-se bacharel”

4) "Minha Pátria, Minha Língua", um dos mais belos Enredos já escritos, refere-se à Língua Portuguesa, a última flor de Lácio, como sendo a nossa “maior riqueza”, e diz que os colonizadores espalharam um “manancial de amor” nos territórios colonizados. Lindas palavras, porém, a realidade foi bem diferente. Os exploradores mpuseram seu idioma à força, e apagaram as línguas sagradas dos povos indígenas, como o tupi-guarani; povos que já existiam naquelas terras há pelo menos 12 mil anos antes da invasão portuguesa. A letra dessa canção romantiza a colonização, quando em realidade os colonizadores europeus, por onde passaram, derramaram muito sangue e substituíram a cultura local pela cultura deles.

“Fui ao Lácio, e nos meus versos canto a última flor | Que espalhou por vários continentes um manancial de amor | Caravelas ao mar partiram, por destino encontraram o Brasil | Nos trazendo a maior riqueza, a nossa LínguaPortuguesa”

ATO 2: despertar

As quatro últimas canções do Show são letras que desafiam a “história oficial”, e têm como objetivo despertar o povo brasileiro para que celebre sua verdadeira história e seus verdadeiros heróis. 

Essa segunda parte do Show também revela como o Samba Enredo vem se tornando um dos mais poderosos meios de expressão para abordar questões econômicas, sociais e políticas no Brasil nas últimas décadas. Inclusive, algumas dessas letras, por serem tão significativas e bem elaboradas, vem sendo utilizadas por professores como ferramentas para ensinar história e literatura em sala de aula.

1) "Negros Maravilhosos" foi escrito em 1982, quando o país ainda estava sob o regime da Ditadura Militar (1964-1985). O audacioso Enredo reivindica direitos iguais para todos, independentemente da cor da pele, e fala sobre o valor e o potencial do povo negro.

 “De jeito nenhum, não é preconceito | Negro ou branco tem direito | Nossa escola não faz distinção de cor”

2) "Brava Gente – O Grito dos Excluídos no Bicentenário da Independência" é uma canção poderosa que fala sobre resistênciae conta "a história que a escola não contou".  A letra realça os "heróis esquecidos" e reclama a igualdade de direitos, a liberdade de expressão e a verdadeira independência para todos.

“Desfila o chumbo da autocracia, a demagogia em setembro a marchar | Aos renegados, barriga, progresso agracia quem tem pra bancar (...) Eu vim cobrar igualdade, quero liberdade de expressão”

3) "História de Ninar pra Gente Grande" é uma brilhante revisão da História do Brasil, trazendo à tona as lideranças populares que foram negligenciadas pela narrativa oficial, e desconstruindo a imagem de figuras apontadas como "heroicas”. A trama também foi descrita como "O Lado B da História", a História do Brasil "que não está nos livros". O desfile da Mangueira foi descrito como "épico", "impactante", "transgressor", "arrebatador" e listado entre os melhores do século.

“Brasil, meu dengo, a Mangueira chegou, com versos que o livro apagou | Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento | Tem sangue retinto pisado atras do herói emoldurado | Mulheres, tamoios, mulatos; eu quero um pais que não está no retrato”

4) "Monstro é Aquele Que Não Sabe Amar" aborda os desafios e desigualdades enfrentados pela sociedade brasileira. Traz à luz questões como pobreza, corrupção, violência e disparidades sociais. A música usa a analogia "monstro" e "criador" do Frankenstein para descrever o governo brasileiro, que não oferece apoio e educação aos seus "filhos" e, portanto, cria os "monstros". 

“Sou eu, espelho da lendária criatura | Um monstro carente de amor e de ternura | O alvo na mira do desprezo e da segregação | Do pai que renegou a criação | Refém da intolerância dessa gente”

 Para mais informações sobre o Showcase, visite o nosso Instagram @samba_charlotte

Contato para aulas de samba, shows e apresentações culturais: SambainCharlotte@gmail.com

Fonte: Coluna South Carolina

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