Coluna Coração em Sintonia

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Dr. Gian Lima é médico cardiologista, formado pela Universidade de Pernambuco e residência em clínica médica e posteriormente cardiologia pela University of Connecticut. Autor de diversos artigos publicados e trabalhos apresentados em conferências internacionais, Dr. Gian Lima traz toda a sua experiencia para a coluna “Coração em Sintonia”, com objetivo de esclarecer assuntos importantes para saúde cardiovascular de seus leitores, além de estimular mudança de hábitos para uma vida mais saudável.

Instagram @gianlima87

Estatinas e o coração

Seu Sebastião sofreu um pequeno infarto em 2023, e uma de suas principais preocupações era se ele realmente precisa tomar estatina todos os dias. Essa é, na verdade, uma das perguntas mais frequentes que recebo de pacientes.

Muitas vezes, os pacientes têm receio dos efeitos colaterais dessa medicação e ficam bastante receosos quando alguém a prescreve. Estatinas são utilizadas principalmente para baixar o colesterol, especialmente o colesterol “ruim” chamado LDL. Essas drogas vêm sendo estudadas na medicina desde a década de 70 e, ao longo das décadas, têm se provado uma das mais eficazes para reduzir em até 30% o risco de infarto do miocárdio.

Sim, existem sim alguns efeitos colaterais, que na verdade, quando comparados com outras classes de drogas, são bastante modestos. O efeito colateral mais temido por muitos pacientes é a dor muscular. Em pesquisas clínicas, tem-se relatado dores musculares em 1-3% dos pacientes, enquanto que no mundo real nós encontramos algo em torno de 10-15% dos pacientes reclamando desse efeito. É importante esclarecer, no entanto, que na maioria das vezes as dores relatadas pelos pacientes não são causadas pelo medicamento – na verdade, são dores relacionadas ao estresse muscular frequentemente causadas por excesso de peso e já presentes antes mesmo de se iniciar a estatina. Nos infrequentes casos em que realmente a dor muscular é um efeito colateral da estatina, muitas vezes podemos reduzir um pouco a dose ou substituir por outra estatina menos potente, dessa forma, na maioria das vezes, há um alívio dos sintomas.

Outro possível efeito colateral que foi recentemente bastante divulgado pela mídia seria o risco de estatinas causarem diabetes. De fato, isso tem sido relatado em alguns estudos, um pequeno aumento nos níveis de glicose dos pacientes. Entretanto, esse efeito é bastante limitado e, o mais importante, os pacientes ainda assim se beneficiam de uma redução no risco de infarto (e isso seria a principal preocupação relacionada à diabetes). Portanto, mesmo que os níveis de glicose subam ligeiramente, o paciente permanece com redução significativa no risco de morte cardiovascular.

Em resumo, eu expliquei para Seu Sebastião que as estatinas são drogas velhas conhecidas (mais de 45 anos!), comprovadamente eficazes em reduzir significativamente (um terço é bastante!) o risco de infarto, e com efeitos colaterais mínimos quando comparadas com outras medicações. Convencer Seu Sebastião não foi tarefa fácil, mas depois de alguns anos tomando a medicação religiosamente, sempre que o encontro e vejo seu sorriso largo, me sinto recompensado.

 

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