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Edição MA 4214

Última Edição #4214

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Revista # 73

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Coluna Cataldi: Broadway: Sunset Boulevard é o Triunfo do Texto

Como Correspondente e Curadora de Conteúdo da Broadway para o Brasil, tenho a responsabilidade e o privilégio de traduzir, com sensibilidade e precisão, a efervescência da cena teatral nova-iorquina para o olhar brasileiro.

Como Correspondente e Curadora de Conteúdo da Broadway para o Brasil, tenho a responsabilidade e o privilégio de traduzir, com sensibilidade e precisão, a efervescência da cena teatral nova-iorquina para o olhar brasileiro. Cabe a mim indicar, entre tantas produções em cartaz, aquelas que não apenas brilham em técnica e espetáculo, mas que dialogam com o imaginário, a língua e a emoção do público do nosso país. Minha curadoria é mais que informativa: é afetiva, estratégica e culturalmente comprometida.

Ser esse elo direto entre a Broadway e o Brasil significa filtrar o que há de mais relevante, interpretar nuances, captar atmosferas e entregar ao público brasileiro não apenas recomendações, mas experiências significativas. Trata-se de ocupar um lugar de escuta, de visão crítica e de profundo respeito tanto ao palco quanto à plateia. E, nessa posição, sei que indicar Sunset Boulevard exige uma observação cuidadosa, pois não basta ser extraordinário. É preciso também ser acessível à sensibilidade de quem o assiste. Sunset Boulevard, na arrebatadora versão em cartaz no St. James Theatre é, sem dúvida, uma das mais impactantes experiências teatrais em exibição hoje na Broadway. A direção de Jamie Lloyd opta por uma leitura crua, essencial, que se apoia quase exclusivamente na palavra, na tensão silenciosa dos corpos em cena e na entrega emocional do elenco. Nada sobra. Nada distrai. Tudo pulsa.

Nicole Scherzinger, em sua interpretação visceral de Norma Desmond, não apenas sustenta o espetáculo, ela o eleva a um patamar de intensidade dramática raro nos palcos contemporâneos. Sua presença é magnética, seu controle técnico é irrepreensível e sua entrega emocional beira o desconcertante. O restante do elenco, coeso e igualmente comprometido, sustenta com precisão a densidade da narrativa. Não há deslizes, não há concessões. O teatro, com seus mais de 1.700 assentos, estava absolutamente lotado. Não apenas cheio, tomado. O público manteve-se em silêncio reverente durante os momentos mais densos, e explodiu em aplausos vigorosos ao fim, permanecendo de pé por um tempo que não se vê com frequência. Foi uma resposta legítima, espontânea e merecida. Mas aqui cabe a ponderação que minha função exige. Embora Sunset Boulevard seja uma obra-prima em sua proposta artística, ela não é recomendada a todos. A ausência de recursos cênicos exuberantes e de figurinos tradicionais, aliada ao foco absoluto no texto e na performance, exige do espectador uma escuta atenta, fluência irrestrita na língua inglesa e familiaridade com as sutilezas culturais da narrativa. Para o público brasileiro que vem a Nova York em busca de encantamento imediato, de visuais arrebatadores e canções marcantes para levar na memória, esta peça pode frustrar mais do que fascinar. Ela não se revela a quem a observa de fora. É preciso estar dentro. É preciso compreender cada linha, cada silêncio, cada ironia velada.

Minha missão é indicar espetáculos que se tornem memória viva para os brasileiros em trânsito pela Big Apple. E ainda que eu reconheça a grandeza desta montagem, afirmo com responsabilidade: Sunset Boulevard é sublime, mas não é para todos. É para quem domina a língua e se dispõe a mergulhar sem distrações. Para o restante do público, a Broadway segue oferecendo outras jóias, talvez mais leves, mas igualmente inesquecíveis.

Claudia Cataldi é Correspondente Internacional Curadora da Broadway para o Brasil

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