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Publicado em 26/12/2014 as 12:00am

Sargento dos EUA,Brasileiro troca exército por futebol

Pouco mais de dez anos depois, aos 35 de idade, o sargento Pessoa desembarcava no Vietnã, de trágica memória para os americanos.

Quando Laurence Pessoa pousou num voo secreto da American Airlines no aeroporto do Kuwait, numa madrugada de 2003, o presidente norte-americano George W.Bush tinha acabado de declarar guerra ao Iraque. A pista e o avião de carreira estavam às escuras para despistar inimigos, o que só assustou mais os jovens soldados que, disfarçadamente, seguiam para o front. Enquanto o brasileiro naturalizado americano rezava agarrado na poltrona, lembrava-se das camisetas da seleção que colocou na bagagem: elas ajudariam a criar empatia com o povo local e a reforçar nele próprio seu maior laço com o Brasil.

Pouco mais de dez anos depois, aos 35 de idade, o sargento Pessoa desembarcava no Vietnã, de trágica memória para os americanos. Mas, desta vez, ele chegaria para sua primeira viagem como gestor de futebol, com o pequeno Sport Clube Capixaba que ajudou a estruturar. A equipe da primeira divisão do Espírito Santo terminou em terceiro lugar na última BTV Cup, depois de perder nos pênaltis para a seleção universitária da Coréia do Sul -- a campeã do torneio, após bater os vietnamitas do Long An.

Foi tudo muito inesperado, desde que a guerra do Iraque acabou. Eu fui lá para ficar três meses e fiquei mais de um ano, não sabia o que faria quando voltasse. O Exército era tudo que eu conhecia como trabalho", conta Laurence, que até se encontrou com o ator e polítoco Arnold Schwarzenegger em sua carreira militar. "Quis ser jogador, mas o futebol ressurgiu como opção quando voltei para o Brasil por um tempo para morar apartamento do Sávio, ex-Flamengo. Ficamos próximos e acabei indicado para trabalhar na Federação Capixaba. Eu até esperava ser jogador, mesmo aos 25 anos. Mas gestor? Nunca."

A carreira desse mineiro de Mutum começou com a organização de uma Copa do Brasil Sub-17, há sete anos. Depois fez cursos padrão Fifa para ser agente e gestor. Depois de dois anos na Federação Capixaba, começou a buscar oportunidades mais lucrativas para deixar o passado de guerra para trás. "Levou um tempo para me acostumar. Passei por lugares difíceis como Albânia, Kosovo, Kuwait, Iraque... Viajei por toda a Europa, América Central. É como um jogador que vai a todo lado e aí a carreira acaba", disse.

No Iraque, na mais perigosa de suas missões, Laurence teve como principais funções ser guarda-costas de generais e instalar comunicações logo depois de as cidades do país árabe serem ocupadas pelas primeiras tropas dos EUA. Naquele ano, subiu duas patentes, mas prefere não detalhar os motivos. "Foi um tempo muito difícil, de medo de ataques repentinos, de ter de colocar a roupa química correndo no meio da madrugada por risco de bomba... Sabíamos que o risco de morte era alto", conta.

O gestor do Sport Capixaba, que assumiu esse cargo no ano passado, diz que se esforçou para o futebol pegar entre os colegas americanos durante a guerra. Mas apenas os de origem latina tinham paixão parecida pelo esporte mais popular do mundo. "Eu sempre ligava para casa para saber do Flamengo, dos jogadores, da seleção. Via e lia o que dava. Até jogávamos com a população local. Assistia a qualquer campeonato pela TV. Eu nunca perdi a ligação com o futebol, nem durante os conflitos", afirma.

O sonho de viajar para o exterior desarmado e trabalhando com futebol se tornou viável há quase um ano. "Fiz uma parceria com um empresário que já traz times para o Vietnã, foi uma bênção. Só de um clube recém-fundado estar aqui já é uma grande vitória. Passamos dois meses juntando os jogadores, treinando no campo do Zanata, o ex-jogador do Flamengo e do Vasco, pagando tudo do bolso. Os objetivos são claros: viemos para fazer o clube crescer e para negociar jogadores com clubes daqui", afirmou.

O clube-empresa está se estabelecendo, mas como negócio ele ainda não compensa, diz Laurence. "Em campo fomos bem, só perdemos dos campeões nas cobranças de pênaltis. Mas vender está difícil, o mercado aqui parece ter se fechado um pouco", conta Laurence. "Mas eu estou calmo. O Exército me ensinou a não deixar os nervos aflorarem. A diferença é que lá é tudo certinho, todo mundo recebe tudo e só foca no trabalho. Aqui é um trabalho enorme, o futebol é muito mais complexo que o mundo militar."

Questionado sobre se é mais difícil ser sargento no Iraque ou gestor de futebol, Laurence não tem dúvidas: "Agora é mais complicado. No Brasil e no futebol como um todo as pessoas tratam uma coisa e fazem outra. Tem de ser documentado e ainda assim pode dar errado. Sem falar que muitos jogadores se comportam como artistas, isso trava a conversa. No Exército tem hierarquia. No futebol todo mundo quer mandar um pouco", diz. Quando eu era sargento sabia que todos estavam atentos em busca do mesmo."

Fonte: ESPN.com.b

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