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Publicado em 29/10/2008 as 12:00am

Cerca é ponto de encontro entre mexicanos e indocumentados

Em um momento de conflagração quanto à imigração, com trabalhadores ilegais demitidos de seus empregos, nível recorde de deportação e ampliação das muralhas de fronteira, o Parque da Amizade, em Imperial Beach, se destaca como lugar no qual os vizinhos po

Em um momento de conflagração quanto à imigração, com trabalhadores ilegais demitidos de seus empregos, nível recorde de deportação e ampliação das muralhas de fronteira, o Parque da Amizade, em Imperial Beach, se destaca como lugar no qual os vizinhos podem conversar tranqüilamente por sobre a cerca.

Ou através dela, ao menos. Famílias e amigos, incluindo pessoas que não podem atravessar a fronteira devido a problemas legais ou de imigração, trocam beijos, alimentos e notícias pelas brechas na cerca, que está em estado precário. Aulas de ioga e de salsa, ritos de comunhão, manifestações de protesto e reflexão silenciosa transcorrem à sombra de um obelisco de pedra que marca o ponto no qual agrimensores norte-americanos e mexicanos começaram a demarcar a fronteira, quase 160 depois da guerra entre os dois países.

"É difícil ver e tocar quem está do outro lado", disse Manuel Meza, cidadão norte-americano, que estava almoçando na cerca em companhia de sua mulher, que foi deportada e agora viaja três horas para encontros regulares na cerca. "Pode ser estranho, mas nosso amor é mais forte que a cerca".

No entanto, em um sinal de que os tempos estão mudando, a nova cerca de fronteira com a qual o Departamento de Segurança Interna conta para ajudar a deter as travessias ilegais atravessará o parque, limitando o acesso ao monumento e o contato social através da cerca.

Além da cerca, uma segunda barreira de malhas metálicas demarcará a fronteira alguns metros no interior do território norte-americano, criando uma terra de ninguém cujo objetivo é retardar ou impedir travessias.

Com o início das obras esperado para novembro, o governo federal e o da Califórnia continuam a negociar sobre como fornecer algum acesso ao monumento. Mas mais que alguns moradores de San Diego vêem um paradoxo em que uma área criada para celebrar a amizade ganhe tons de distância e separação.

A então primeira dama Pat Nixon, em uma cerimônia no local em 1971, declarou que "odeio ver cercas em qualquer parte", enquanto cruzava para o território do México para cumprimentar pessoas.

Mas funcionários da Patrulha de Fronteira, que conduz vigilância da área em base regular, dizem que o parque tem seu lado negativo.

Ainda que boa parte das atividades possa ser inocente, os contrabandistas tiram vantagem da situação distribuindo drogas e outras mercadorias ilegais pela cerca. Houve pessoas que tentaram até passar bebês pelas estacas metálicas afiadas que marcam a fronteira na praia, disse Michael Fisher, que comanda a patrulha em San Diego. Agora, seus agentes operam um posto de fiscalização que revista as pessoas que deixam o parque.

"É uma vergonha", diz Fisher, observando um menino que atravessou a fronteira por breve período enquanto corria pela praia, e depois voltou ao outro lado. "É uma área agradável, com um marco histórico. Que as pessoas se encontrem e se misturem é muito bom. Mas infelizmente, sempre que existe uma área aberta, surgem organizações criminosas para explorar o fato".

"Nós não podemos", disse ele, "manter a fronteira aberta, não à custa de reduzir nossa capacidade de patrulhar a fronteira".

A nova fronteira é parte de um projeto de 22,4 quilômetros de reforço e construção de novas barreiras, do oceano a Otay Mesa, um porto de entrada. O projeto inclui nivelar um vale profundo conhecido como "Ravina do Contrabando", um notório ponto de travessia logo a leste do parque, enchendo a ravina com toneladas de terra ¿ para desgosto dos ambientalistas.

Ao contrário da tendência constatada ao longo dos últimos dois anos na maior parte dos 3,2 mil quilômetros da fronteira sudoeste, Fisher diz que as travessias ilegais aumentaram na região de San Diego, bem como os ataques a agentes que localizam contrabandistas e são agredidos com pedras e outros objetos. Um quarto dessas agressões, ele diz, acontecem no setor de San Diego, que mais de uma década atrás era um dos pontos quentes para travessias ilegais.

Embora o reforço do contingente da patrulha e das cercas tenha empurrado boa parte das travessias ilegais para os desertos do leste e o mar, onde o contrabando via barco é um problema crescente, as pessoas continuam a escavar túneis sob a cerca, galgá-la ou até perfurá-la com maçaricos ou instrumentos industriais de corte.

Mas os críticos do plano de estender a cerca ao Parque da Amizade dizem que a Patrulha da Fronteira havia exagerado os problemas lá, e feito do local um dos pontos em que a perspectiva de novas barreiras prejudicou a bonomia transnacional.

Em Naco, Arizona, o jogo atual de vôlei entre mexicanos e norte-americanos foi cancelado porque a cerca de arame, que era usada como rede, foi substituída por uma barreira de placas metálicas sólidas e mais altas. Os moradores de Jacumba, Califórnia, e Jacumbe, México, que no passado cruzavam a fronteira livremente, se queixam de que a cerca reforçada rompeu elos formados há gerações.

Mas o Parque da Amizade, parte do Parque Estadual de Border Field, veio a simbolizar a forte união entre Tijuana e San Diego, as duas maiores cidades da fronteira. A construção da nova cerca já resultou na derrubada de um bom trecho da antiga. Mas, em um domingo recente, muita gente ainda visitava o local para trocar cumprimentos com amigos e parentes.

Jacqueline Huerta pressionava o rosto contra a cerca, do lado mexicano, para ver pela primeira vez sua sobrinha Yisell, de quatro meses. "Nossa, como você é bonita", ela disse, forçando a mão por uma abertura na cerca para acariciar os cabelos do bebê. "Onde mais ela poderia fazer isso?", perguntou Socorro Estrada, a mãe da menina, que viajou seis horas de carro para se encontrar com a família no parque.

Fonte: (Terra)

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