Publicado em 28/08/2009 as 12:00am
Imigrante briga por custódia de criança no Mississipi
O governo americano pode tirar um bebê de sua própria mãe somente porque ela não fala inglês? Essa é a última pergunta a intrigar o país, num debate sobre imigração ilegal no Mississipi
O governo americano
pode tirar um bebê de sua própria mãe somente porque ela não fala inglês? Essa
é a última pergunta a intrigar o país, num debate sobre imigração ilegal no
Mississipi. A mãe em questão, que fala mal o idioma e que veio de uma pequena
localidade rural do México para os EUA, é indocumentada e está brigando na
justiça pela guarda do seu próprio bebê.
Cirila Baltazar Cruz é
de uma região montanhosa do estado de Oaxaca. Para fugir à destituição das
terras em sua vila de mais ou menos 1500 índios Chatino, ela emigrou no início
dos anos 2000 para os EUA, na esperança de trabalhar e enviar algum dinheiro
para os dois filhos que tinha deixado aos cuidados de sua mãe. Ela encontrou
trabalho num restaurante chinês na Costa do Golfo do México, no estado do
Mississipi.
Porém, Cirila fala
somente a lingua Chatino, um pouco de espanhol e nada de inglês. No final de
novembro do ano passado, ela deu a luz a uma menina, Rubi, que nasceu no River
Hospital na cidade de Pascagoula, onde mora.
De acordo com
documentos obtidos pelo jornal Clarion-Hedger do Mississipi, o Hospital logo
telefonou para o DHS (Department of Human Services), que julgou-a incapaz de
criar a filha, pois, em seu entender, como não falava inglês, ela iria colocar
a criança em perigo no futuro.
A pequena Rubi foi
tirada de Cirila, que agora enfrenta também a deportação. No mês de maio de 2009,
um juiz do condado de Jackson deu a criança para um casal - não se sabe para
adoção ou somente para residência temporária - e que mora em Ocean Springs. Cirila
Cruz quer a filha de volta e está brigando na justiça para levar a menina para
o México com ela.
O seu caso foi levado
para o MIRA (Mississipi Immigrant´s Rights Alliance) e para o Southern Poverty
Law Center (SPLC), do Alabama, mas os advogados dessas duas organizações dizem
que não podem comentar o assunto por causa de uma ordem judiciária. Mas, a
diretora do SPLC, Mary Bauer, disse que a mãe jamais deveria ter perdido a
custódia da filha somente porque não fala a língua. E completou: "Esse é
um caso de violação dos direitos humanos".
Falta de tradução
competente
No dia em que deu a
luz, Cirila Baltazar Cruz pediu carona a um policial da cidade de Pascagoula. Mais
tarde, um parente que falava um pouco de inglês ofereceu-se como tradutor, mas
o hospital não o aceitou e usou os serviços de um intérprete do serviço social
do estado, um americano de descendência portoriquenha. Ele não falava Chatino e
seu espanhol é bem diferente do que se fala no México.
Pior ainda, a matéria
do jornal mostra Cirila virtualmente como uma prostituta e que estaria "trocando
um lugar para morar por favores sexuais" em Pascagoula, e que ela também
teria planejado entregar a criança para adoção. Através dos setores públicos,
ela nega essas acusações. O jornal insiste nas declarações do hospital de que "ela
nem sabia falar inglês" e que foi "incapaz de ligar para pedir ajuda
e ser transportada para o hospital". O tradutor oficial também confirmou
que Cirila colocou Rubi em perigo, porque nem "trouxe um porta-bebês,
roupas ou leite em pó". Só que ele se esqueceu que tradicionalmente as
mães indígenas da tribo Oaxacan dão leite materno a suas crianças durante um
ano e levam seus filhos nas costas num "rebozo", na linguagem
Chatino.
A barreira da língua
parece ser o pivô do caso do estado contra a mãe. Aparentemente, um dos medos
do DHS é de uma mulher que não fale o idioma não consiga nem ligar para o
número 911 da emergência, caso sua criança precise de cuidados médicos
urgentes.
Entretanto, Mary Bauer
afirma que milhões de crianças têm sido criadas e educadas por pais e mães que
não falam inglês. "Como ficariam, então, os milhares de italianos, russos
e pessoas de outras nacionalidades que chegaram ao país através da Ellis
Island, eles teriam que ter deixado seus filhos com a imigração quando aqui
chegaram como imigrantes? Rubi é uma cidadã americana e, mesmo com a mãe deportada,
a menina poderá voltar ao país quando se tornar uma adulta".
A próxima corte de
Cirila está marcada para novembro. Nesse meio tempo, os serviços consulares
mexicanos entraram num acordo com o estado do Mississipi para se assegurarem
que o México seja logo informado, caso uma situação como essa se repita. Daniel
Hernandez Joseph, diretor do programa de proteção a cidadãos mexicanos fora do
país, afirma que a maior preocupação do governo mexicano é a de nunca separar
imigrantes de suas famílias.
Fonte: (Da redação / NY Times)