Governo Trump “abandona imigrantes” nas ruas após detê-los na fronteira

O governo dos Estados Unidos começou a transferir o peso do gerenciamento de entrada de famílias imigrantes na fronteira para organizações locais em algumas cidades na fronteira sudoeste com o México.

O presidente Donald Trump parabenizou a proibição de requerentes de asilo na fronteira sudoeste, e criticou a ideia de "pegar e soltar", ou como é chamado entre os brasileiros, “Cai, Cai”. O republicano disse que não concorda com o sistema de prender e depois apenas deixar os imigrantes entrarem nos EUA enquanto aguardam processos em tribunais de imigração.

Embora as detenções anuais ainda estejam abaixo dos registros de 2014, o último grande aumento de famílias e crianças não acompanhadas que entraram no país aumentou.

Agentes da Patrulha da Fronteira (CBP, sigla em inglês) prenderam mais de 16.600 imigrantes em setembro, o maior número registrado em um único mês desde que a agência começou a rastrear as chegadas de famílias no ano fiscal de 2013.

No passado, quando uma família estava sob custódia na fronteira, os funcionários do Departamento de Imigração e Fiscalização Alfandegária (ICE, sigla em inglês) analisavam os planos dela para morar nos EUA, inclusive ligando para a pessoa com quem a família planejava viver e ajudando na organização da viagem.

O ICE anunciou esta semana que, devido ao número de famílias que chegam, seus oficiais não farão mais essas revisões.

Isso significa que as famílias serão libertadas mais rapidamente e em maior número, uma política apelidada de "liberação coordenada", que tem sido executada silenciosamente em todo o sudoeste da fronteira desde o início de outubro, tendo iniciado começou no Arizona. Isso também significa que as famílias podem ter menos orientação sobre como chegar aos destinos finais para que possam comparecer às datas da audiência.

Alguns defensores dos imigrantes se perguntaram se a medida poderia ter um motivo político para criar o caos na fronteira pouco antes dos eleitores comparecerem às urnas em eleições parlamentares.
Grupos no Texas, onde o maior número de famílias chega, já estavam se esforçando para administrar o crescimento número de liberações nas últimas semanas e eles se preocupam que esses números possam subir nos próximos dias.

A explicação dada pelas autoridades do ICE é que a mudança ocorreu pelo fato de que o Congresso e uma decisão judicial determina que a agência pode prender crianças em centros de detenção por até 20 dias. A administração de Trump pressionou pela detenção prolongada das famílias e mais espaço para manter todos os recém-chegados detidos até que os processos em tribunais de imigração sejam concluídos.

“Estamos sem espaço, infelizmente, dado o aumento nos números de detidos é maior do que podemos comportar", disse Kirstjen Nielsen, secretária do Departamento de Segurança Interna.

Os três centros de detenção familiares do país estão 54% cheios, com 1.977 leitos ocupados de 3.654, de acordo com os últimos dados do ICE. Mas o orçamento da agência financia 2.500 leitos familiares de detenção por dia, e as famílias podem exigir espaço adicional, porque as pessoas de diferentes idades e sexos são alojadas separadamente.

"Famílias imigrantes continuam a atravessar a fronteira em grandes volumes e provavelmente continuarão a fazê-lo, já que não enfrentam consequências por suas ações", disse um comunicado emitido pelo ICE. “Para aliviar o risco de manter as famílias além do prazo atribuído ao governo, o ICE começou a restringir todas as revisões de planos pós-liberação de famílias detidas ao longo da fronteira sudoeste”.

ICE disse que vai trabalhar com funcionários locais e estaduais "para que eles estejam preparados para prestar assistência com transporte e outros serviços".

As famílias serão libertadas com tornozeleiras e avisos para comparecer ao tribunal, de acordo com o ICE. Isso já acontece regularmente na Califórnia, onde não tem centros de detenção familiar.

Em certas partes da fronteira, o Departamento de Segurança tem trabalhado com abrigos de imigrantes durante anos, dando-lhes tempo para encontrar espaço e fazer planos de viagem antes de deixá-los sair.

Mas em El Paso, nesta semana, os funcionários do departamento notificaram os abrigos de que não vão mais esperar pela libertação dos imigrantes, deixando-os nas ruas da cidade, já que ficaram sem espaço em áreas temporárias.

Ruben Garcia, diretor do abrigo da Casa da Anunciação de El Paso, disse que 20 dos imigrantes chegaram ao local na quinta-feira (25/10), tendo pago um táxi até o abrigo depois que eles foram deixados em outro lugar. Ele espera que mais cheguem nos próximos dias porque o abrigo é bem conhecido e já entrou em contato com diretores da gestão de emergência de El Paso, solicitando um abrigo temporário com 200 leitos.

"Vai estar em sua responsabilidade", disse Garcia às autoridades da cidade. "O fator desconhecido nisso é que não sabemos se as cidades vão se envolver".

As despesas podem ser significativas com base no número crescente de famílias que chegam.

Fonte: Da redação