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Publicado em 7/06/2019 as 2:00pm

“Sou americano”: Diz brasileiro adotado aos cinco anos de idade e deportado após 30 anos vivendo nos EUA

Paul Fernando Schreiner anda ao redor de um quarto com poucas mobílias, golpeando os mosquitos...

“Sou americano”: Diz brasileiro adotado aos cinco anos de idade e deportado após 30 anos vivendo nos EUA Após deportado, Fernando entrou no Brasil sem documentos. FOTO ICE - CAPTURA TWITTER

Paul Fernando Schreiner anda ao redor de um quarto com poucas mobílias, golpeando os mosquitos em seus braços e pescoço enquanto se pergunta se hoje será diferente de todos os outros dias.

O ar pesado e denso desta cidade do outro lado da baía do Rio de Janeiro parece insuportável, nada como o calor seco de Phoenix, no Arizona, onde o homem de 36 anos vivia quando foi deportado no ano passado.

As conversas são raras porque ele não fala português e poucas pessoas em sua volta falam somente português. Mas a linguagem é apenas uma: a comida e até os esportes que os brasileiros seguem - Schreiner gosta mais do futebol americano do que do futebol.

Dentro de sua cabeça, todo dia é uma luta contra o tédio, a solidão e o desespero.

"Sou tudo menos brasileiro", disse ele, adotado no Brasil por uma família norte-americana há três décadas. "Eu sou um americano."

As autoridades dos EUA discordam, ressaltando a linha cada vez mais dura que o governo Trump está tomando contra os residentes legais considerados deportáveis. Schreiner foi inelegível para a cidadania porque ele foi condenado pelo estupro de um menor em Lincoln quando ele tinha 21 anos de idade.

As autoridades de imigração foram tão longe para deportar Schreiner que elas podem ter violado uma lei do Brasil e tornaram praticamente impossível para ele exercer sua suposta cidadania brasileira.

"Ele não deveria ter que sofrer uma segunda vez", disse sua mãe, Rosanna Schreiner, em lágrimas.

Schreiner nunca se naturalizou como cidadão dos EUA, mas viveu como norte-americano por 30 anos. Ele foi legalmente adotado aos cinco anos de idade, tinha uma certidão de nascimento em Nebraska, um número da Previdência Social e pagou impostos.

Grupos de adoção dos EUA estimam que entre 35.000 e 75.000 adotados nos Estados Unidos poderiam estar em tal situação hoje, acreditando erroneamente que já são cidadãos. A Lei da Cidadania Infantil de 2000, assinada pelo Presidente Bill Clinton, visava simplificar o processo, tornando a cidadania automática para crianças adotada no exterior.

Mas houve uma exceção: para as crianças que já estavam na América, apenas aquelas com menos de 18 anos quando a lei entrou em vigor, qualificaram-se. Seis semanas a mais, a lei não se aplicava a Schreiner.

O pedido de cidadania com base na elegibilidade como titular do Green Card também estava fora: Quando ele completou 21 anos, foi condenado por estupro por ter feito sexo com um adolescente de 14 anos.

Ele foi condenado, novamente, em 2007 por três agressões sexuais a crianças. Em sua sentença, o advogado que processou o caso chamou Schreiner de predador e o juiz que o condenou chamou-o de uma grave ameaça a todas as mulheres do condado de Lancaster.

Depois de passar quase oito anos na prisão, em Nebraska, ele mudou-se para o Arizona e iniciou um negócio de limpeza de piscinas e carpintaria.

"Ele estava trabalhando, se acostumando à vida após a prisão", disse Jason Young, pastor da Heritage Baptist Church em um subúrbio de Phoenix, com o qual Schreiner desenvolveu um relacionamento próximo.

DETENÇÃO IMIGRATÓRIA

Então, às 5:00 am, de 23 de outubro de 2017, os agentes cercaram o caminhão de Schreiner quando ele saiu para o trabalho. Ele não ficou totalmente surpreso. Logo após o início de seus problemas legais, em 2004, ele foi notificado de que havia uma ordem de deportação contra ele. Mas isso nem sempre resultou em remoção durante os governos dos presidentes George W. Bush e Barack Obama.

"A posição oficial do governo brasileiro - expressa na Lei da Criança e do Adolescente - é que a adoção é um ato irrevogável, que confere à criança adotada os mesmos direitos dos que vivem com seus pais biológicos", afirma Alexandre Addor. Neto, o então Cônsul-geral do Brasil em Chicago, em resposta a um pedido das autoridades dos EUA para que o brasil emitisse documentos de viagem para a deportação de Schreiner.

Em 2017, as autoridades brasileiras novamente negaram o pedido do governo dos EUA de emitir o documento.

'Procurado criminoso'

No entanto, em 12 de junho de 2018, Schreiner foi acordado durante uma detenção e foi informado de que estava sendo deportado. Ele disse que um agente teria lhe dito que "o Brasil é um governo corrupto e iria deixá-lo entrar mesmo sem passaporte”.

Em comunicado, o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, sigla em inglês) disse apenas que Schreiner havia sido deportado e se recusou a comentar mais sobre o assunto.

Algemado e acompanhado por dois agentes, ele disse que viajou em um voo comercial de Phoenix para New York, onde os funcionários da American Airlines não queriam deixá-lo entrar no voo para o Rio de Janeiro.

A única documentação que os agentes do ICE tinham era um "certificado de nacionalidade" emitido pelo Consulado Brasileiro em Los Angeles que dava apenas um nome, "Fernando", e a data de nascimento que Schreiner recebeu após a adoção.

Os agentes teriam dito que “ele era um criminoso procurado no Brasil”, para conseguirem colocá-lo no avião.

Quando chegou ao Brasil, os agentes dos EUA e a polícia federal brasileira discutiram se deveriam deixá-lo entrar. Depois de uma série de telefonemas e conversas acaloradas, Schreiner foi levado para a frente do aeroporto. Ele foi desamarrado e os agentes foram embora.

Quase um ano depois de ser deportado, ele continua no limbo, com o futuro incerto. Não conseguiu obter uma certidão de nascimento brasileira, um cartão de identificação ou um número de identificação fiscal necessário para trabalhar. Entrar no país pela porta dos fundos com um certificado de cidadania que se refere a ele apenas como "Fernando" tem sido um obstáculo para os funcionários do registro civil. Outro problema é que não há registro original de seu nascimento, uma situação comum de adotados e outras pessoas pobres no Brasil.

Schreiner disse que sua maior esperança, se ele conseguir um passaporte brasileiro, é tentar imigrar para o Canadá, onde fala a língua e estaria mais próximo da família.

Fonte: Redação Braziliantimes

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