Comunidade “abraça casa” e impede que ICE prenda imigrante no Tennessee

Durante duas semanas, as pessoas viram a misteriosa camionete, Ford F-150, branco e sem identificação, circular pelas ruas de Hermitage, um bairro de Nashville, no Tennessee. Vários moradores disseram que não atentaram muito para o veículo - até a madrugada desta segunda-feira, dia 22, quando luzes vermelhas e azuis foram acesas para parar o vizinho enquanto ele saía de casa com o filho de 12 anos.

Dentro estavam dois agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês). Eles tinham uma ordem administrativa que lhes dava permissão para deter o pai, que vive na comunidade há mais de 14 anos.

Mas as coisas não ocorreram como planejado. Horas depois, os agentes saíram de mãos vazias, depois que os vizinhos trabalharam juntos para bloquear a prisão do homem.

"Nós ficamos juntos, como os vizinhos devem fazer", disse Felishadae Young.

No ano passado, os defensores usaram táticas cada vez mais arrojadas para tentar impedir que o ICE detivesse e deportasse imigrantes indocumentados. Em março, um ativista de New York, dando uma carona para dois imigrantes indocumentados, impediu com sucesso que os agentes prendessem seus passageiros quando ele se recusou a abrir a porta do carro. Ele fez isso quando observou que os oficiais não tinham um mandado emitido por um juiz.

Na Carolina do Norte, 27 pessoas foram presas depois de terem bloqueado uma van do ICE, em um esforço malsucedido para impedir a deportação de um homem que se refugiava em uma igreja local.

Em meio às ameaças do presidente Trump de ataques em larga escala, ativistas também treinam imigrantes indocumentados para aprender os seus direitos. Na semana passada, uma adolescente em New Jersey supostamente impediu que agentes do ICE prendessem os seus pais porque ela se recusou a abrir a porta sem a apresentação de um mandado assinado.

Os membros da comunidade em Nashville também estavam preparados. Quando a imprensa chegou para registrar o fato, um vizinho pode ser ouvido gritando: "Eles vieram para a comunidade errada, no dia errado".

O homem que o ICE estava tentando prender não foi identificado publicamente, mas uma vizinha, Angela Glass, o descreveu, bem como a sua família, como “pessoas boas”. Quando luzes piscando iluminaram o bairro tranquilo, por volta das 6:00 am, os moradores se perguntaram o que estava acontecendo.

Glass disse que ela vive próximo à família por cinco anos, mas nunca percebeu que o pai não era um cidadão dos EUA. Ela acrescentou que os vizinhos ficaram chocados. “Todo mundo ficou bravo e ficou tipo, 'eles não fazem nada, não incomodam ninguém, você não tem reclamações deles. A polícia nunca foi chamada lá. Tudo o que fazem é trabalhar, cuidar da família e cuidar da comunidade”, explicou.

A notícia se espalhou pelo bairro quando mais pessoas acordaram e saíram para ver o que estava acontecendo. Logo, defensores de grupos de direitos dos imigrantes foram alertados e a entrada de carros ficou lotada. Os espectadores, que instaram o pai e seu filho a permanecerem em seu veículo, começaram a transmitir o ocorrido ao vivo pelas redes sodiais.

As horas foram passando e a temperatura ficou mais quente. Os vizinhos se certificaram de que o pai e o filho tivessem panos úmidos para mantê-los frescos sob o calor do verão. Eles trouxeram sanduíches e recarregaram o tanque de combustível para que o ar condicionado do veículo continuasse funcionando.

Enquanto isso, os oficiais do ICE tentaram persuadir os dois a saírem do veículo. “Eles eram muito maus para eles", disse Young. "Eles conversaram com eles como se não fosse ninguém".

Nada legalmente obrigava o pai a sair do carro. Daniel Ayoade Yoon, um advogado que não representa a família e apareceu na casa depois de saber do impasse, disse que os agentes haviam chegado sem um mandado assinado por um juiz.

"Eles estavam aqui com uma ordem administrativa que eles mesmos escreveram", disse o advogado. “Não há revisão judicial, nenhuma revisão do magistrado, nenhuma causa provável. Isso não lhes dá autoridade para derrubar uma porta como você faria com um mandado normal. Eles não tentaram fazer isso. Mas eles ainda mentiram para os dois e para as pessoas que estavam ao redor”, explicou.

Finalmente, após cerca de quatro horas, os agentes desistiram e foram embora. Agarrando as mãos, o grupo diversificado de ativistas, vizinhos e membros da comunidade cercaram a van. Eles formaram uma cadeia humana, alinhando o caminho que levava à modesta casa de tijolos da família. As portas do furgão se abriram e o pai e o filho correram para dentro da casa.

Mais tarde, a esposa do homem apareceu. Ela aparentemente estava dentro da casa, esperando tudo se acalmar.

"Obrigada", ela disse em espanhol, enquanto sufocava em lágrimas. "Obrigado a todos que nos apoiaram, do fundo do meu coração".

O ICE não quis comentar o ocorrido.

Fonte: Redação Braziliantimes