Nomear tutor para filhos não é tão fácil para imigrantes detidos, afirma ativistas

Muitos imigrantes indocumentados nos Estados Unidos vivem sob a ameaça de deportação há anos - e aqueles que são pais têm um medo adicional: o que acontecerá com seus filhos se eles forem detidos por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês)? 

Pessoas de todo o país têm se esforçado para encontrar uma resposta para essa pergunta. "É algo muito desesperador pensar que possamos nos separar de nossos filhos", disse Maria, uma mãe indocumentada que não quis compartilhar seu sobrenome.

Maria se mudou de El Salvador para Central Falls, em Rhode Island, há quase 20 anos. O marido dela é natural da Guatemala. Quando o presidente Donald Trump assumiu o cargo, a filha do casal tinha 6 anos e o filho 7.

As pessoas começaram a falar sobre as duras políticas de imigração de Trump. Maria e o marido ficaram preocupados com o que aconteceria aos filhos se eles fossem pegos pelo ICE.

Geralmente, quando um pai é detido ou deportado pelo ICE, seus filhos ficam sob custódia do Estado. As autoridades estaduais de assistência social podem colocar as crianças com outros membros da família, erlas podem entrar no sistema de assistência social para adoção.

"Por isso precisávamos ver o que fazer garantir que eles ficassem com outra pessoa em caso disso acontecer. Mas teria que ser alguém familiar", disse Maria, em espanhol.

Muitos pais desconhecem como fazer isso e vivem fazendo a mesma pergunta na comunidade. "Para ser sincera, não tínhamos resposta", disse Elisa Ortiz, da Appleseed Network, um grupo sem fins lucrativos em Washington, DC, que trabalha com questões de justiça social que começou a investigar o assunto em 2017.

"Pensamos na época que seria fácil", disse ela. "E rapidamente descobrimos em alguns meses que isso era praticamente impossível".

De acordo com ela, isso ocorre porque as leis de tutela podem variar de estado para estado. Ortiz disse que durante a crise da Aids, nas décadas de 80 e 90, alguns estados estabeleceram políticas que permitem aos pais nomear um tutor para seus filhos, mas apenas no caso de sua morte. “"Muitos estados só permitem que você o faça se estiver em estado terminal e tiver um diagnóstico de que morrerá dentro de um certo período de tempo", explicou.

Ela disse que a maioria dos estados não possui leis que permitem aos pais nomear responsáveis ​​em caso de detenção ou deportação. “Não há como saber o impacto que isso causou ou quantas crianças acabaram no sistema de assistência social”, afirmou.

Ativistas, advogados e imigrantes de todo o país tentam encontrar soluções para esta questão. Em Washington, DC, eles pressionaram com sucesso por uma legislação de emergência que permite aos pais imigrantes nomearem guardiões para seus filhos se eles forem detidos.

Maryland e New York também aprovaram projetos para fazer o mesmo.

Rhode Island respondeu de outra maneira. A advogada Jennifer Wood, do Centro de Justiça em Providence, se reuniu com outros advogados para criar um processo de seis páginas com documentos legais que foram traduzidos para o português e outros idiomas. 

Os pais podem preencher o formulário, assinar e entregá-lo à pessoa que designaram como guardiã, para que possam reivindicar a criança. Wood disse que eles podem ter os formulários com firma reconhecida, mas isso não é obrigatório. “Sabíamos basicamente qual era o cenário e sabíamos que tínhamos que fazer algo porque ele não se encaixava facilmente em nenhuma das estruturas de tutela existentes na lei de Rhode Island", disse ela dwestacando que a comunidade imigrante cresceu muito nos últimos anos. “O subúrbio de Providence passou da maioria branca para latina”, fala.

Wood disse aos pais imigrantes que, se preencherem os formulários de tutela, os funcionários de Rhode Island os cumprirão.

Fonte: Redação - Brazilian Times.