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Publicado em 27/02/2020 as 6:00pm

Entenda como negligência médica do ICE matou um pai imigrante na fronteira

Em abril de 2019, Nebane Abienwi, 37 anos, deixou sua esposa e três filhos em casa, na cidade...

Entenda como negligência médica do ICE matou um pai imigrante na fronteira Nebane Abienwi teve problemas de hipertensão grave antes de morrer e médicos do ICE não o trataram como devia.

Em abril de 2019, Nebane Abienwi, 37 anos, deixou sua esposa e três filhos em casa, na cidade de Bafut, Camarões, para embarcar em uma jornada que o levaria por três continentes e nove países.

Seu objetivo era chegar aos Estados Unidos através da fronteira com o México, mas sua vida terminou tragicamente depois que ficou sob custódia do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês), no Centro Médico Sharp Chula Vista, em San Diego, na Califórnia, no dia 1º de outubro de 2019. Ele morreu vítima de uma hemorragia cerebral após um acidente vascular cerebral causado por pressão arterial extremamente alta.

Abienwi era um mecânico talentoso e era o provedor de sua família desde que seus pais morreram quando ele tinha 18 de idade, de acordo com seu irmão mais novo, Akongnwi. Mas quando eclodiu conflito civil em sua cidade natal, entre o governo camaronês e grupos armados que defendiam a independência nas regiões anglófonas do país, o imigrante optou por tentar a sorte nos stados Unidos em busca de segurança e estabilidade financeira para sua família.

Assim, Abienwi se tornou um dos cerca de 10.000 camaroneses que tentaram pedir asilo ou entrar nos Estados Unidos desde 2016, de acordo com o presidente do Conselho Americano dos Camarões, Sylvie Bello. Essas imigrações aumentaram depois que a União Europeia reprimiu a imigração da África em 2016.

Em abril de 2019, Abienwi voou para o Equador, que permite que a maioria dos nacionais africanos entre sem visto. Então, ele começou a difícil jornada terrestre para os Estados Unidos.

Abienwi ficou doente no México, depois de atravessar trechos de selva na América Central, segundo relatos do seu irmão. “Houve situações em que ele estava realmente se sentindo mal, como se essa jornada fosse muito, muito estressante... na época em que ele esteve no México, disse que estava se sentindo um pouco triste, que não estava bem, então teve que tomar alguns comprimidos em um hospital local".

O prontuário médico de Abienwi mostra que ele foi hospitalizado duas vezes no México por hipertensão, inclusive em 23 de agosto de 2019, em Tijuana, menos de duas semanas antes de cruzar a fronteira. Antes de atravessar, ele enviou uma mensagem aos irmãos via WhatsApp. "Ele disse: 'Estou realmente deixando o México agora para o outro lado, a caminho dos Estados Unidos, então conversarei com vocês quando puder. Eu amo todos vocês. Tome cuidado'', disse Akongnwi.

Abienwi entrou nos Estados Unidos na fronteira de San Ysidro, em 5 de setembro e, apesar da tentativa do irmão de ligar para ele cinco vezes quando estava detido, a família nunca mais falou com ele.

Depois que ele se apresentou para pedir asilo e foi detido para aguardar sua audiência, as autoridades o levaram a Otay Mesa, uma instalação de ICE operada por uma empresa com fins lucrativos, a CoreCivic. Na manhã de 26 de setembro de 2019, Landys Tenangfie, um detento de 24 anos que dividia cela com ele, descobriu que o imigrante estava "sangrando pelos ouvidos e pelo nariz" e que os profissionais de saúde da ICE o levaram ao hospital.

Em um comunicado, o ICE, disse que Abienwi teve um derrame e caiu do beliche superior batendo a cabeça no chão da cela. Ele foi levado para o centro médico.

Após dificuldade em se comunicar com a esposa de Abienwi no Camarões, o ICE ligou para Akongnwi, que vive na África do Sul, para informar que o cérebro de seu irmão estava sangrando e que ele morreria em poucos dias. Eles perguntaram se ele daria permissão para delisgar a máquina que o mantinha vivo e o irmão disse que não. "Os médicos disseram que seria um milagre se ele sobrevivesse, e eu que iríamos orar e ver o que aconteceria", explicou Akongnwi.

Mas em 1º de outubro, às 2:37 pm, o hospital declarou Abienwi com morte cerebral e desligou o aparelho.

Segundo dois profissionais médicos, a falta de atenção adequada indica que o imigrante foi vítima de negligência médica. "É inconcebível para mim que ele tenha sido hospitalizado três semanas antes, no México, por hipertensão grave e possa entrar em uma instalação e ser tratado como um caso totalmente normal", disse o Dr. John Flack, especialista em hipertensão e presidente do Departamento de Medicina Interna na Southern Illinois University.

O Dr. Craig Spencer, diretor de Saúde Global em Medicina de Emergência do New York-Presbyterian / Columbia University Medical Center, disse que não tratar a pressão arterial de Abienwi equivale a negligência médica.

Akongnwi concordou. "O médico com quem falei deixou claro que que quando meu irmão chegou lá, ele estava bem. Então, eu realmente não entendo essa parte. Ele estava bem, e de repente, como pode estar tão doente?”, indagou.

Embora o ICE tenha enviado os pertences de Abienwi diretamente aos Camarões, somente dois dias após sua morte, a família teve acesso a informações sobre o corpo. Os protocolos da agência de imigração afirmam que os parentes mais próximos podem obter acesso para identificar o corpo e levá-lo para os Camarões para serem enterrados. Mas Abienwi não tinha parentes próximos nos Estados Unidos e Akongnwi teve o visto americano negado duas vezes para buscá-lo.

O ICE disse à família que ela tinha que coordenar o retorno do corpo com a embaixada dos Camarões em Washington, DC, mesmo que a embaixada tenha uma relação contraditória com os solicitantes de asilo.

Depois de dar a Akongnwi a orientação, a embaixada exigiu vários documentos administrativos dos Camarões. Apesar da dificuldade e burocracia, a família conseguiu fazer o translado.

De acordo om ativistas, este tipo de atitude em centros de detenção para imigrantes é muito comum e em alguns casos, “os detentos são tratados como animais”.

Fonte: Redação - Brazilian Times.

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