Ex-xerife anti-imigrante perde primárias para voltar ao cargo

Esta campanha política provavelmente foi a última para Joe Arpaio, o ex-xerife que serviu por seis mandatos no Condado de Maricopa, conhecido por liderar repressões contra imigrantes indocumenatdos e construir uma carreira política em torno do tratamento duro dado a presidiários. Ele, que tem 88 anos de idade, perdeu por pouco uma corrida para reconquistar seu antigo emprego.

Arpaio foi derrotado na sexta-feira, dia 07, nas primárias republicanas para o seu ex vice- xerife, Jerry Sheridan, em uma corrida que foi mais discreta e financiada de forma mais modesta para Arpaio do que as campanhas estravagantes quando ele estava no auge. Embora ainda enfrentasse críticas por sua condenação criminal em 2017 - que o presidente Donald Trump perdoou - muitos não sabiam que ele estava concorrendo até que viram seu nome na cédula. "Acho que algumas pessoas estavam cansadas de mim e queriam outra pessoa", disse Arpaio. "E foi assim que aconteceu", tentou justificar a derrota.

Um agente federal aposentado de combate ao tráfico, Arpaio foi eleito xerife em 1992, depois que seu antecessor foi criticado por administrar mal uma investigação sobre as mortes de nove pessoas em um templo budista.

No início de seu mandato, Arpaio marcou muitos pontos com os eleitores ao decretar duras políticas penitenciárias, como lutar contra antigas gangues, alojar presidiários em tendas durante o calor intenso, forçá-los a usar cuecas rosa e proibir cigarros e pornografias.

Os críticos dizem que Arpaio criou uma cultura de crueldade dentro de suas prisões que levou à morte de vários presidiários.

Ele assumiu a briga contra a imigração em 2005, quando alguns eleitores e legisladores republicanos pediram uma abordagem mais dura. Na época, quase todos os outros chefes de polícia locais nos EUA contentaram-se em deixar que as autoridades federais cuidassem desse trabalho.

Arpaio liderou 20 patrulhas de trânsito em grande escala que tinham como alvo imigrantes indocumentados e mais de 80 redes comerciais para prender pessoas que trabalhavam nos Estados Unidos sem permissão. Seus poderes de imigração foram retirados pelo governo federal e pelos tribunais no final de 2014, minimizando seu papel no debate sobre imigração.

Embora sua veia desafiadora tenha funcionado bem com os eleitores por muitos anos, Arpaio enfrentou fortes críticas por adotar políticas que ele sabia serem polêmicas e acumular US $ 147 milhões em contas jurídicas financiadas pelos contribuintes.

Embora ele se autodenominasse o xerife mais duro da América, sua agência prejudicou investigações de mais de 400 denúncias sobre crimes sexuais feitas em seu escritório.

Ele prendeu os dois principais executivos de um jornal semanal que criticava o gabinete do xerife, abriu processos criminais contra adversários políticos, investigou juízes e gastou US $ 100 milhões em fundos de prisão.

Seu grupo de voluntários investigou a autenticidade da certidão de nascimento do então presidente Barack Obama, uma mentira desmascarada que permaneceu viva aos olhos de alguns conservadores, incluindo o então candidato à presidência Trump.

Durante grande parte de sua carreira política, Arpaio sobreviveu a escândalos e evitou investigações que teriam afundado a carreira de muitos políticos.

Os críticos o acusaram de escolher pessoas impotentes para gerar publicidade para si mesmo e de gastar irresponsavelmente o dinheiro do contribuinte em políticas que estavam fadadas ao fracasso.

Seus defensores, que muitas vezes se referiam a ele apenas como "Sheriff Joe", disseram que o xerife era o único chefe da polícia local que se preocupou em enfrentar a imigração ilegal.

Stan Barnes, um consultor político em Phoenix e ex-legislador estadual republicano, disse que Arpaio, para o bem ou para o mal, refletiu por muitos anos o que a maioria dos eleitores na região metropolitana de Phoenix queria de um xerife - repressão à imigração e prisões duras. "Ao julgar Joe Arpaio, todos nós temos que nos certificar de que estamos nos julgando também", disse.

A política de Arpaio começou a diminuir significativamente em 2013, quando um juiz descobriu que seus oficiais tinham perfis raciais latinos em patrulhas de imigração. O ex-xerife acabou sendo condenado por desacato criminal ao tribunal por desobedecer a uma ordem judicial justamente neste caso de criação de perfil, embora mais tarde tenha sido poupado de uma possível sentença de prisão ao receber o perdão de Trump.

Enquanto a frustração dos eleitores aumentava com seus problemas legais e táticas para chamar a atenção, Arpaio perdeu sua candidatura ao sétimo mandato por quase 13 pontos percentuais para o sargento aposentado da polícia de Phoenix, Paul Penzone - na mesma eleição de 2016 que enviou Trump à Casa Branca.

Alguns especialistas políticos previram que Penzone, um democrata, vencerá as eleições gerais de novembro.

A primeira prova da derrocada de Arpaio foi quando ele ficou em terceiro lugar nas primárias republicanas de 2018 para o Senado dos EUA, perdendo no condado de Maricopa e em sua cidade natal, Fountain Hills.

Sua campanha este ano para reconquistar o escritório do xerife foi repleta de dificuldades.

Arpaio, que já foi mestre em angariar publicidade, não conseguiu muita cobertura jornalística. Embora suas contribuições de US $ 1,2 milhão tenham liderado todos os outros candidatos a xerife, foi uma queda acentuada em relação aos US $ 12 milhões que ele levantou em 2016. Ele também enfrentou dúvidas sobre sua idade e saúde.

Sua plataforma consistia em seu apoio inabalável a Trump e trazer de volta práticas que os tribunais consideraram ilegais ou que seu sucessor encerrou, como repressões a imigração ilegal. Ele também enfrentou um eleitorado mais moderado do que em campanhas anteriores. “Esta pode ser a última vez que participo de uma campanha eleitoral, mas vou estar ativo”, disse Arpaio, lembrando que tem um novo livro saindo em algumas semanas. "Mas se você acha que vou para casa e ficar a olhar para as montanhas, isso não vai acontecer. Nunca vai acontecer. Estarei na ativa sempre”, finalizou.

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Fonte: Redação - Brazilian Times.