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Publicado em 24/11/2020 as 12:00pm

Imigrantes se preocupam com aumento de apoio latino a Trump em Miami (FL)

Apesar de o grande número de imigrantes latinos que vivem na região, ativistas comunitários se surpreenderam com o considerável apoio ao presidente atual

Imigrantes se preocupam com aumento de apoio latino a Trump em Miami (FL) Maria Elena Hernandez passou os dias anteriores a 3 de novembro batendo em portas no Condado de Miami-Dade e informando os eleitores sobre Joe Biden

Incapaz de votar por causa de seu status migratório, Maria Elena Hernandez, uma faxineira nicaraguense com status de proteção temporária (TPS), encontrou outras maneiras de se envolver nas eleições de 2020. Com outros membros de seu sindicato, uma filial da Service Employees International, Hernandez passou os dias anteriores a 3 de novembro batendo em portas no Condado de Miami-Dade e informando os eleitores sobre Joe Biden, que ela considera ser mais “a favor trabalhadores e imigrantes ”do que o atual Presidente Donald Trump. Durante vários anos, Hernandez também encorajou colegas de trabalho imigrantes com direito à cidadania a concluírem o processo de naturalização, para que possam “defender nossos direitos” com seu voto.

Na noite da eleição presidencial, conforme os resultados preliminares sugeriam a possibilidade de reeleição de Trump, Hernandez previa o pior cenário, dado o compromisso do governo atual de encerrar o programa TPS do qual ela depende.

“Eu estava uma pilha de nervos naquela noite”, disse ela. “Eu poderia me ver sendo deportada de volta para o meu país”.

Para Hernandez, e para muitos outros imigrantes latinos sem direito a voto no sul da Flórida que se sentiram alvos da agenda de imigração de Trump, os resultados finais da eleição foram agridoces. Enquanto Biden acabou conquistando vitórias históricas no colégio eleitoral e no voto popular em todo o país, Trump venceu o estado da Flórida, impulsionado em parte por uma onda de apoio hispânico. Em Miami-Dade, uma coalizão crescente de eleitores latinos cubanos e não cubanos ajudou a levar o presidente às melhores margens que um candidato republicano conquistou no condado mais populoso do estado em 16 anos.

Trump ganhou quase 55% dos votos na maioria dos distritos hispânicos do condado. Esse resultado forçou imigrantes como Hernandez a reconciliar seu alívio pela vitória de Biden com uma dose de exasperação com sua própria comunidade.

“É frustrante ver tantos latinos apoiando (Trump) e votando nele”, disse Hernandez. “Eu fico me perguntando: 'Por que eles votam em alguém que é anti-imigrante? Alguém que é racista? Alguém que não gosta de nós? Por que eles não olham para o dano que ele causou? Trata-se de uma situação muito frustrante".

Embora seja cidadã dos EUA, Mariana Martinez possui muitos imigrantes indocumentados e beneficiados pelo programa TPS entre os membros de sua família salvadorenha. A popularidade de Trump entre os latinos de Miami-Dade não é algo que a chocou: antes da eleição, ela viu mais placas de Trump aparecendo em frente às casas em Cutler Bay, onde ela mora, e em Homestead (FL), onde trabalha como ativista a favor dos direitos dos imigrantes no American Friends Service Committee. Entretanto, a falta de surpresa não significa falta de decepção.

“O que aconteceu? Sinceramente, ainda estou tentando descobrir o que aconteceu. Mas é realmente desanimador como muitas pessoas votaram contra suas comunidades, porque posso citar algumas pessoas cujas famílias também são mistas e ainda votaram em Trump”, disse ela.

“É uma grande desconexão. Em Miami-Dade, todo mundo conhece alguém sem documentos. (Então) por que você votaria em alguém que não está tentando legalizar o status aos membros de sua comunidade? ... Eles simplesmente não se importam?” Questionou.

Em conversas com o jornal Herald, muitos imigrantes do sul da Flórida e defensores dos direitos dos imigrantes enfatizaram que Biden não era sua escolha preferida para presidente no início da disputa em 2020, dado seu papel como vice-presidente em um governo que deportou um número recorde de pessoas. Entretanto, todos os entrevistados viram Biden como um aliado maior a favor da comunidade imigrante do que Trump.

Em seus 4 anos como presidente, Trump conseguiu remodelar praticamente todos os aspectos do sistema de imigração, tanto legais quanto ilegais. Isso apesar de uma série de litígios que buscavam bloquear a implementação de muitas de suas políticas. Ele praticamente isolou o país de requerentes de asilo e refugiados (incluindo de Cuba e Venezuela), expandiu enormemente a detenção de imigrantes e tornou todos os imigrantes sem documentos alvo para deportação. Isso contrasta com o Presidente Barack Obama que, na última fase de seu mandato, instruiu o Departamento de Imigração (ICE) a prender e deportar imigrantes indocumentados que cometeram crimes.

Trump também usou a pandemia de COVID-19 para recusar dezenas de milhares de vistos e procurou criar um "teste de riqueza" para os imigrantes que aplicam para a residência legal permanente (Green card). Sob a supervisão de Trump em 2018, o governo dos EUA gerou críticas internacionais devido à política de "tolerância zero", a qual levou à separação de milhares de famílias na fronteira com o México. 

“Eu estava passando por um período emocional difícil nos últimos meses”, disse Maria Angelica Ramirez. “Se Trump tivesse sido reeleito, eu tinha quase certeza de que enfrentaria a deportação mais uma vez”.

Imigrante colombiana de 33 anos, Ramirez mudou-se para Miami (FL) aos 14 anos. Ela é um dos mais de 600 mil beneficiárias do programa Ação Diferida para Chegadas na Infância (DACA) da administração Obama, que desde 2012 permite que imigrantes sem documentos que foram trazidos aos EUA ainda na infância devem solicitar um status temporário que os proteja da deportação e os permita trabalhar. A administração Trump tentou encerrar o DACA em 2017. Embora a Suprema Corte tenha bloqueado essa mudança de política no início de 2020, em concordância com decisões anteriores de juízes federais, o governo atual se recusou a aceitar novos pedidos para o programa DACA.

Biden, por outro lado, se comprometeu a restaurar totalmente o DACA, desmantelar o resto da agenda restritiva de imigração de Trump e até mesmo trabalhar com o Congresso para fornecer "a possibilidade de legalização para os quase 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem nos EUA, entre outras medidas.

“Vimos um padrão durante esta administração (Trump) de atacar tanto quanto possível”, disse Romina Montenegro, uma beneficiária do DACA que imigrou da Argentina para Miami (FL) quando ela tinha 2 anos de idade. “Enquanto isso, Biden está procurando soluções . Ele está procurando uma maneira de garantir que todos estejam protegidos”.

As diferenças marcantes nas plataformas de imigração de Biden e Trump tornaram o aumento do apoio latino ao presidente no sul da Flórida difícil de processar.

“Deixa um gosto ruim na boca”, disse Montenegro. “Parece um pouco com traição”.

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Fonte: Redação Brazilian Times

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