Ex-xerife no Arizona, "Caçador de indocumentados" é filho de imigrante

Filho de um dono de mercearia ítalo-americano, Arpaio passou grande parte de sua vida perseguindo traficantes de drogas para o governo dos EUA, iniciando seu reinado de terror no Arizona. Joe Arpaio, o homem que já foi conhecido como o xerife mais resistente da América, ganhou fama internacional por suas repressões na imigração no condado de Maricopa (AZ). Na década de 1990, Arpaio chamou a atenção da mídia pela primeira vez por obrigar os presidiários a usar roupas íntimas cor de rosa e dormir em barracas. Ele deu início a uma ofensiva local sem precedentes contra imigrantes não autorizados em 2006, em meio a um animus anti-imigrante no Arizona.

Uma resistência liderada por latinos se levantou contra Arpaio nas ruas, na praça pública e nos tribunais. Mais tarde, os tribunais federais consideraram que as batidas realizadas por Arpaio e as paradas no trânsito motivadas pela imigração discriminaram os motoristas latinos e resultaram em detenções e deportações injustas. Às vezes, as táticas de Arpaio separavam as famílias permanentemente. Em resposta às críticas, Arpaio sempre negou que tenha caçado os imigrantes para agradar sua base de eleitores brancos conservadores. Frequentemente, ele notava que ele próprio era filho de um imigrante. Seu pai italiano veio para os Estados Unidos em 1923, durante um ciclo de intensa animosidade anti-imigrante.

Quando criança, Arpaio foi provocado e insultado por seu DNA italiano. Este capítulo do novo livro, Driving While Brown: Sheriff Joe Arpaio versus the Latino Resistance (University of California Press), de Terry Greene Sterling e Jude Joffe-Block, explora os primeiros anos de Arpaio e as forças que transformaram o filho de um imigrante em o agente de imigração mais famoso do país.

Ele não falou sobre isso. Ciro Arpaio nunca disse porque abandonou a sua aldeia de telhados vermelhos enclausurada nas colinas do sul da Itália e as pessoas que amava. Ou pelo menos foi o que seu filho, Joe, disse anos depois, quando ele era um homem velho e não conseguia se lembrar muito sobre o que seu pai lhe disse. Ou optou por não fazê-lo.

Entretanto, havia muitos motivos pelos quais dezenas de milhares de italianos pobres como Ciro queriam vir para os Estados Unidos. A Itália estava se ajustando aos efeitos colaterais da Primeira Guerra Mundial, novas fronteiras, mudanças econômicas e sociais, nacionalismo explosivo e um primeiro-ministro autoritário volátil, Benito Mussolini. Seja qual for o motivo, em 1923 Ciro pulou a bordo do Presidente Wilson, um navio a vapor de carga que transportava imigrantes italianos para os Estados Unidos. Ciro tinha 22 anos.

Mas o Presidente Wilson teve que vencer dez outros navios de imigrantes para o porto de Nova York. Se não o fizesse, os passageiros a bordo poderiam ser deportados de volta para a Itália devido às cotas de imigração restritivas para imigrantes do sul e do leste da Europa considerados indesejáveis.

Para a sorte de Ciro Arpaio, em 1º de julho de 1923 o Presidente Wilson venceu os dez outros navios em trânsito e foi o primeiro na fila para o processamento de imigração na Ilha Ellis, em Nova York. A vitória do navio classificou um artigo de primeira página no The New York Times, dividindo espaço com uma história sobre empreiteiros que precisam de mais trabalhadores imigrantes e um artigo sobre a Ku Klux Klan, um poderoso grupo anti-imigrante de supremacia branca que se tornou popular na época.

Quando o Presidente Wilson chegou ao porto de Nova York, os estrangeiros constituíam cerca de 13% da população dos Estados Unidos, um dos picos mais altos dos últimos tempos. Muitos americanos se sentiram ansiosos. Imigrantes italianos e outros imigrantes do sul e do leste da Europa há muito eram vistos como invasores inclinados ao crime, propagadores de doenças, roubadores de empregos, astutos e de pele morena.

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