No aniversário de nove anos do DACA, brasileira que vive na Flórida fala sobre medo de perder proteção

Bruna Sollod foi pegar uma nova carteira de motorista no início deste mês depois de se mudar de estados e foi confrontada com uma dolorosa lembrança de sua situação frágil – a data de validade de suas proteções contra a deportação expiram no início do próximo ano. Nascida no Brasil, mas criada na Flórida, ela estava na faculdade quando recebeu proteções temporárias por meio do Ação Adiada para Chegadas à Infância (DACA, sigla em inglês), um programa criado na era Obama em 2012 e que oferece protege da deportação e concede autorizações de trabalho para imigrantes indocumentados trazidos para os Estados Unidos quando crianças.

Agora com quase 30 anos, a brasileira já mora nos EUA há 22 anos. Mas o DACA, criado para ser uma medida temporária para proteger um grupo de jovens imigrantes sem documentos, continua limitado e sob ameaça legal. “Todos nós temos essas datas de validade em mente. Quanto tempo este programa vai durar?”, disse ela, descrevendo complicações em sua saúde mental e de outras pessoas enquanto os tribunais e o Congresso debatem o DACA.

Antes do programa completar nove anos de criação, os senadores democratas estão de olho em uma ação legislativa para estabelecer uma solução permanente para milhares de pessoas, como a brasileira, que vivem há anos com proteções temporárias.

Na terça-feira, dia 15, nove anos após o ex-presidente Barack Obama anunciar o programa no Rose Garden, o Comitê Judiciário do Senado realizou uma audiência sobre o American Dream and Promise Act, legislação aprovada pela Câmara em março com apoio bipartidário e que visa fornecer um caminho para a cidadania a centenas de milhares de imigrantes indocumentados que chegaram ao país quando crianças, conhecidos como “Dreamers”, e outros com proteções de imigração temporária.

A audiência destacou a necessidade de o Senado adotar a legislação aprovada pela Câmara e incluir o testemunho de um destinatário do DACA, agora trabalhando como residente médico, e ex-líderes dos Departamento de Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA (USCIS, sigla em inglês).

“Estou pronto, agora é a hora. A América está pronta”, disse o presidente do Judiciário do Senado, Richard J. Durbin, de Illinois, durante uma entrevista coletiva. “De forma esmagadora, democratas, republicanos e independentes apoiam essa ideia. Eles acreditam que é justo que esses jovens tenham a chance de fazer parte do futuro da América”, continuou.

A brasileira, que agora faz parte do United We Dream, destacou que esta é uma oportunidade para o povo americano saberem a opinião dos republicanos. Se eles acham que os “Dreamers” merecem um caminho para a cidadania ou para a deportação.

O presidente do Comitê Judiciário do Senado, Dick Durbin, D-Ill., destacou que a audiência mostrou a realidade sobre os republicanos que ignoram a situação dos “Dreamers”.

Os republicanos, especialmente os trumpistas, queriam se concentrar na segurança na fronteira dos EUA com o México. Eles enfatizaram o potencial dos imigrantes indocumentados como assassinos em fuga. Tentaram intimidar e mostrar que todos os imigrantes são criminosos.

Vinte anos atrás, Durbin começou sua cruzada para proteger os “Dreamers” quando apresentou, junto com o então Senador Orrin Hatch, R-Utah, um projeto de lei que deu ao movimento seu nome: “Ato de Desenvolvimento, Ajuda e Educação para Menores Estrangeiros”. Ao longo dos anos, surgiram diferentes versões dos projetos de lei e ganharam maioria de votos no Senado - mas não os 60 votos necessários para anular um veto.

Uma das testemunhas na audiência foi o Dr. Manuel Bernal Mejia, um DREAMer que agora é residente de medicina que cursa o terceiro ano no Advocate Christ Medical Center, no subúrbio sul de Oak Lawn, em Illinois.

Seus pais o trouxeram do México para os EUA quando ele tinha apenas dois anos. Por causa do DACA, Mejia pôde se matricular na Loyola University Chicago Stritch School of Medicine, a primeira faculdade de medicina do país a admitir um “dreamers”.

O que um presidente pode fazer acontecer com um golpe de caneta, outro pode tirar. O ex-presidente Donald Trump tentou encerrar o programa DACA, mas foi bloqueado por decisões judiciais. Agora, um processo pendente no Texas ameaça os beneficiários do DACA.

Durbin disse em seu discurso de abertura na audiência, a respeito da fronteira sul: “Não vamos ignorar essa realidade, mas esta também é uma realidade. Por muitos anos, o Congresso olhou para o outro lado e encontrou outra desculpa para adiar essa decisão. É hora de permitir que esses indivíduos - esses futuros americanos - finalmente se tornem cidadãos”.

Após a audiência, Durbin estava entre os presentes na Casa Branca para um evento de aniversário do DACA organizado pela vice-presidente Kamala Harris. “Estou aqui em nome da administração Biden-Harris para dizer a vocês que esta administração pretende fazer tudo ao nosso alcance para proteger nossos Dreamers”, disse Harris.

 

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Fonte: Da redação