Publicado em 23/03/2023 as 8:00am
ICE já manteve sob custódia 1.480 cidadãos dos EUA como imigrantes indocumentados desde 2012
Eles e outros descreveram o pânico e a sensação de impotência que se instalaram quando os agentes os levaram sob custódia sem explicação e ignoraram as alegações de que eram cidadãos.
Os oficiais de imigração nos Estados Unidos operam sob uma regra fundamental: mantenha suas mãos longe dos americanos. Mas os agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, sigla em inglês) várias vezes colocaram cidadãos deste país no caminho para a deportação por engano, fazendo prisões injustas com base em registros incompletos do governo, dados incorretos e investigações negligentes.
As informações foram divulgadas pelo US Times Post baseada em algumas entrevistas e dados coletados de agências do governo.
Desde 2012, o ICE libertou de sua custódia mais de 1.480 pessoas após investigar suas reivindicações de cidadania. E uma análise sobre os registros do Departamento de Justiça e entrevistas com advogados de imigração revelou centenas de casos adicionais nos tribunais de imigração, nos quais as pessoas eram forçadas a provar que eram cidadãs e às vezes passavam meses ou até anos detidas.
Entre as vítimas estão um paisagista “sequestrado” em um estacionamento da Home Depot, em Rialto (Califórnia) e detido por dias, apesar das tentativas de seu filho de mostrar aos agentes o passaporte americano do homem; um residente de New York preso por mais de três anos lutando contra os esforços de deportação depois que um agente federal confundiu seu pai com alguém que não era cidadão do país; e uma governanta de Rhode Island alvejada por engano duas vezes, resultando em uma noite na prisão, embora seu marido tenha apresentado o passaporte americano dela em uma audiência.
Eles e outros descreveram o pânico e a sensação de impotência que se instalaram quando os agentes os levaram sob custódia sem explicação e ignoraram as alegações de que eram cidadãos.
As prisões ilegais representam uma pequena fração das mais de 100.000 detenções que o ICE faz a cada ano, e não está claro se o esforço agressivo do governo Trump para aumentar as deportações levou a mais erros.
Mas as detenções de cidadãos americanos representam um tipo perturbador de dano colateral no esforço do governo para remover imigrantes indocumentados ou indesejados. Os erros revelam falhas na forma como o ICE identifica pessoas para deportação, incluindo sua dependência de bancos de dados incompletos e cheios de falhas.
As prisões ilegais também destacam uma presunção que permeia as agências e tribunais de imigração dos EUA de que aqueles nascidos fora dos Estados Unidos não estão aqui legalmente, a menos que os registros eletrônicos mostrem o contrário. E quando os erros não são corrigidos rapidamente, os cidadãos são forçados a entrar em um sistema judicial de imigração, onde devem lutar para provar que não devem ser deportados do país, muitas vezes sem a ajuda de um advogado.
De acordo com as informações, os dois grupos mais vulneráveis a se tornarem alvos equivocados do ICE são os filhos de imigrantes e cidadãos nascidos fora do país.
Matthew Albence, chefe do escritório de Operações de Execução e Remoção (ERO, sigla em inglês), controlado pelo ICE, recusou-se a comentar o assunto, mas disse em uma declaração por escrito que investigar as reivindicações dos cidadãos pode ser uma tarefa complexa que envolve buscas de registros eletrônicos e papeladas, bem como entrevistas pessoais. Ele afirmou que a agência atualiza os registros quando erros são encontrados e os agentes prendem apenas aqueles que eles têm motivos prováveis para suspeitar que sejam elegíveis para deportação.
"O ICE leva muito a sério toda e qualquer afirmação de que um indivíduo detido sob sua custódia possa ser um cidadão dos EUA”, disse ele.
Mas a revisão do The Times de documentos federais e ações judiciais revelou casos em que os americanos foram presos com base em erros ou investigações superficiais do ICE e alguns foram alvos várias vezes porque o governo não atualizou seus registros.
Os advogados de imigração disseram que os agentes federais raramente conduzem entrevistas antes de fazer as prisões e é difícil conseguir que o ICE corrija seus registros.
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