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Edição MA 4206

Última Edição #4206

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Revista # 72

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Artista de Salem homenageia imigrantes mortos no deserto com colcha feita de roupas abandonadas

A artista têxtil Glenda Mah, residente de Salem (Oregon), está dando vida a uma poderosa homenagem às centenas de imigrantes que perderam a vida cruzando o deserto do Arizona na tentativa de alcançar os Estados Unidos. Utilizando roupas descartadas por migrantes na travessia, Mah criou uma colcha memorial que será exibida entre até o dia 25 de maio na frente da Morningside United Methodist Church, localizada na 3674 12th Street S.E.

O projeto integra uma iniciativa artística iniciada em 2007, em Tucson, Arizona, por um grupo de artistas que, sensibilizados pela tragédia humana na fronteira, decidiram transformar roupas encontradas no deserto de Sonora em colchas que homenageiam os mortos. Em 2024, Mah foi convidada a participar e recebeu uma planilha com informações sobre 159 migrantes falecidos entre 2023 e 2024 — alguns identificados pelo nome, outros listados apenas como desconocido (“desconhecido”, em espanhol).

As roupas foram coletadas diretamente do deserto e enviadas a Mah, que costurou à mão os nomes dos falecidos em pedaços de tecido. Cerca de 50 nomes não identificados foram bordados na cor vermelha com a palavra desconocido. A colcha também apresenta uma silhueta do deserto de Sonora e das montanhas do Arizona, com beija-flores bordados simbolicamente carregando os nomes para a eternidade.

“Isso nos faz pensar: onde está a compaixão? Onde está o princípio de que somos a terra dos livres e o lar dos corajosos?”, questiona Mah. “Este é o país que diz ‘enviai-me os cansados, os pobres’. Todos estamos aqui por causa da imigração, com exceção dos povos originários.”

A exibição será aberta ao público de segunda a quinta-feira, das 10h às 15h, e durante todo o dia aos domingos. Mah estará presente na igreja nos domingos de 11 e 18 de maio para conversar com os visitantes.

O impacto do trabalho vai além da arte. Ao falar sobre a experiência de receber roupas infantis, Mah se emocionou ao descrever um par de calças tamanho 10 de uma criança. “Quando você segura aquilo nas mãos, entende que essas pessoas não eram criminosas. Eram famílias, eram crianças buscando um lugar mais seguro”, disse.

Entre 1998 e 2019, estima-se que cerca de 7.800 migrantes tenham morrido tentando cruzar a fronteira sul dos EUA, com ao menos 3.800 mortes registradas apenas no Arizona, segundo um estudo financiado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. Em resposta à crise, grupos humanitários como o No More Deaths surgiram com o objetivo de evitar novas mortes no deserto.

Apesar de inicialmente considerar uma abordagem visual mais chocante, Mah optou por um simbolismo mais sutil. “Se você quer atingir o público em geral, não pode confrontá-lo diretamente. É um tema controverso, especialmente nos dias de hoje”, explica.

Com uma trajetória artística voltada à denúncia de injustiças, como questões de aborto e genocídio, Mah diz que se sentiu especialmente conectada ao projeto por razões pessoais: seu marido é descendente de imigrantes chineses, e seu genro veio de uma família mexicana.

Glenda Mah contou com a ajuda das artistas têxteis Roberta Bigelow, Deb Sorem, Kat Puente, Sarah Williams e Allison Taylor para concluir o trabalho. “Espero que esta colcha traga algum consolo. Que esses nomes bordados provem que essas vidas foram lembradas. Ninguém merece morrer num país onde ninguém saiba que você existiu”, declarou.

A artista, que não se considera religiosa, diz acreditar que os homenageados estão em paz. “Onde quer que estejam, espero que descansem um pouco mais tranquilos porque alguém os lembrou. Os beija-flores os levaram.”

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