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Deportações de Trump abalam Governador Valadares, cidade símbolo da imigração brasileira aos EUA

Conhecida há décadas como a “capital brasileira da imigração”, Governador Valadares vê seu modelo econômico e social ameaçado com o endurecimento das políticas imigratórias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Governador Valadares recebe milhões de dólares diariamente enviados por brasileiros que vivem nos EUA
Forte influência dos Estados Unidos é vista nas ruas de Valadares

Da redação

Conhecida há décadas como a “capital brasileira da imigração”, Governador Valadares vê seu modelo econômico e social ameaçado com o endurecimento das políticas imigratórias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A cidade, localizada no interior de Minas Gerais e com pouco mais de 250 mil habitantes, construiu uma identidade e uma economia baseada na ida de seus moradores para os Estados Unidos — legal ou ilegalmente.

Agora, com o aumento das deportações, Valadares se prepara para um doloroso recomeço.

Desde que Trump reassumiu a presidência, pelo menos seis voos com deportados brasileiros chegaram ao país, muitos com destino final em Minas Gerais. Na tentativa de acolher os que retornam, a prefeitura colocou cartazes pelas ruas com mensagens otimistas como “Sua volta é o começo de uma nova história”, mas a realidade é mais dura.

“A maioria dos brasileiros deportados são daqui”, admite o prefeito Sandro Fonseca, conhecido como Coronel Sandro. Estima-se que cerca de 60 mil valadarenses vivam hoje nos EUA.

As deportações vêm afetando diretamente a cidade, que ganhou o apelido de “Valadolares” por conta do fluxo de dólares enviados pelos imigrantes. O prefeito afirma que cerca de US$ 2 milhões chegam diariamente de brasileiros no exterior, impulsionando setores como construção civil e comércio local. Embora estudiosos contestem esse número, não há dúvidas sobre a importância econômica das remessas internacionais.

Histórias como a de Gilmar Mesquita, 43 anos, ilustram os riscos do caminho até os Estados Unidos. Dono de duas lojas de roupas em Valadares, ele tentou chegar ao país por via marítima, saindo da República Dominicana, mas foi interceptado após o barco quebrar. De volta ao Brasil desde fevereiro, ele diz que ninguém mais quer tentar a travessia. “Até os coiotes sumiram”, afirma.

Em outro caso, Sandra Souza, professora de 36 anos, foi deportada com a família após quatro anos vivendo na Flórida. O aviso veio durante uma visita aparentemente rotineira à imigração. Com um filho autista, ela ainda esperava conseguir o direito de permanecer, mas foi surpreendida pela ordem de deportação. De volta à cidade vizinha de Itambacuri, tenta se reerguer. “A gente voltou relativamente bem, mas há muitos que retornam destruídos”, lamenta.

O vínculo com os EUA está por toda parte: agências de viagem oferecendo serviços de imigração, escolas de inglês com bandeiras americanas e até um shopping com réplica da Estátua da Liberdade. Governador Valadares não apenas exporta brasileiros, mas também cultiva um fascínio por tudo que é americano — inclusive pela política.

Apesar das duras medidas imigratórias, o prefeito evitou críticas a Trump, a quem parabenizou pela reeleição. “Como criticar um presidente que foi legitimamente eleito e apenas continua uma política?”, disse. A observação não é isolada. O ex-presidente Joe Biden também deportou milhares de brasileiros durante seu mandato.

A demanda para chegar aos EUA excede em muito as possibilidades legais, fazendo do tráfico de pessoas um negócio lucrativo. A travessia pode custar até US$ 20 mil por pessoa. Em fevereiro, a Polícia Federal prendeu 14 suspeitos de integrarem uma quadrilha que enviou ilegalmente quase 700 pessoas aos EUA via México, movimentando cerca de R$ 37 milhões.

Para lidar com os retornos, a prefeitura de Valadares tem oferecido serviços de reintegração como atendimento psicológico, orientação para documentos e auxílio na busca por empregos. O governo federal também criou um posto de acolhimento no aeroporto internacional de Confins, com acesso à internet e serviços básicos.

Com a política imigratória mais rígida e as deportações em alta, muitos jovens estão repensando o sonho americano. “Sempre quis ter um iPhone, mas aqui não dá. Só que agora, mesmo se tivesse o dinheiro, as políticas lá assustam”, diz Ryan Alves, de 19 anos, que trabalha em um posto de gasolina.

O movimento de retorno está apenas começando, mas já é suficiente para mudar o rumo da cidade que há décadas vive de olhar para o Norte. Com os caminhos para os Estados Unidos se estreitando, Governador Valadares enfrenta um novo e incerto capítulo de sua história migratória. (fonte: www.bloomberg.com)

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