No interior da Flórida, às margens do rio Little Manatee, a prisão de um pastor evangélico local tem causado comoção e despertado um forte sentimento de injustiça em uma comunidade onde ele era considerado um pilar.
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Detenção de pastor imigrante abala comunidade na Flórida: “Ele é parte de nós”

No interior da Flórida, às margens do rio Little Manatee, a prisão de um pastor evangélico local tem causado comoção e despertado um forte sentimento de injustiça em uma comunidade onde ele era considerado um pilar. Maurilio Ambrocio, imigrante que vive há 20 anos nos Estados Unidos, foi detido por agentes federais de imigração no último dia 18 de abril, durante um de seus check-ins anuais com o Departamento de Imigração e Alfândega (ICE), apesar de possuir um “stay of removal” — uma proteção legal que lhe permitia permanecer no país.
A prisão ocorreu no contexto da intensificação das operações migratórias promovidas pelo presidente Donald Trump, com total apoio do governador da Flórida, Ron DeSantis. A Flórida tem sido colocada como exemplo da nova fase da política de deportações em massa, que conta com a cooperação direta das autoridades estaduais e locais. Segundo o ICE, apenas em um fim de semana mais de 1.100 imigrantes foram detidos no estado — destes, 37% não tinham qualquer condenação criminal.
Maurilio, além de líder espiritual de uma pequena igreja evangélica que também serve como local de votação, é proprietário de uma empresa de jardinagem que presta serviços na cidade vizinha de Fort Myers. Conhecido por sua generosidade e apoio aos vizinhos, sua ausência tem sido sentida em todos os cantos da comunidade.
“Ele veio até mim depois do furacão Milton perguntando se eu precisava de água ou gás. Esse é o tipo de vizinho que ele é”, lembra Greg Johns, morador da região e eleitor de Trump. “Votei esperando que fossem deportar quem tivesse ficha criminal, não um pastor que ajuda todo mundo. Ele é parte da nossa vizinhança.”
A família de Maurilio — sua esposa Marleny e cinco filhos, todos cidadãos norte-americanos — enfrenta agora uma dura realidade. Sem o sustento do pai, a filha mais velha, Ashley, de 19 anos, passou a assumir múltiplas funções: administra os trabalhos da empresa da família, colabora com o culto da igreja e trabalha como hostess em um restaurante.
“Me sinto sobrecarregada, mas só deixo cair as lágrimas quando estou sozinha, no carro”, desabafa Ashley. Em uma das ligações por vídeo com o pai, detido no Centro de Detenção do Condado de Glades, ela escuta sobre sua saúde debilitada, mas também sobre sua fé inabalável: “Ainda estou pregando aqui dentro”, diz Maurilio.
Na igreja, o culto de domingo está sendo conduzido por um pastor visitante. Mulheres da comunidade pedem orações por maridos e filhos que também foram detidos nas últimas semanas. Os nomes se multiplicam. Quase todos os presentes têm familiares cidadãos americanos. Muitos agora vivem sob o medo constante de que também sejam levados.
Na primeira fileira de um dos cultos, o filho caçula do pastor, Esdras, de apenas 12 anos, senta-se ao piano. Com voz baixa, disse: “Ele é como meu melhor amigo. Não sei o que faria sem ele.”
A atmosfera dentro da igreja se enche de tensão e emoção, o pastor visitante busca consolar os presentes: “Deus, às vezes, parte nosso coração. Mas nunca se atrasa.”
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