Publicado em 24/08/2009 as 12:00am
Ilha de férias de Obama é terra de oportunidades para brasileiros
Quando desembarcou na ilha de Martha's Vineyard numa manhã de julho de 2001, a brasileira Flávia Cardoso não imaginava que, em pouco tempo, estaria vivendo num dos balneários mais badalados
Flávia mudou-se para a ilha, na costa do estado de Massachusetts, aos 19 anos, seguindo o marido Antônio Marcos, que desembarcara em Martha’s Vineyard sete anos antes, quando os dois ainda eram namorados. Ao casal, vieram juntar-se um irmão e uma irmã de Marcos, além de primos e parentes, todos da pequena cidade de Mantenópolis, no Espírito Santo.
“É um lugar sossegado, tranqüilo, em que você
dorme com a casa aberta, com o carro aberto, além de oferecer
segurança, saúde e educação. É um lugar de primeiro mundo”,
contou a capixaba por telefone ao portal G1 enquanto
observava os filhos, Nicole e Jonathan, ambos nascidos na ilha,
tomarem banho de piscina.
Questionada sobre o que atrai tantos brasileiros para o local, a brasileira não vacila: a mão de obra bem paga. “Eles [moradores da ilha] pagam bem, tem serviço o ano inteiro e você recebe bem pelo que faz. Por isso, a cada dez companhias, nove têm brasileiros trabalhando. O custo de vida é alto, é tudo muito caro, mas se ganha bem para isso. Aqui tem casa de mais de US$ 15 milhões. É a terra dos magnatas. A gente está aqui de abusado”, brinca.
Junto com o marido, marceneiro, ela chegou a
trabalhar como pintora de casas, mas deixou o trabalho há cinco
anos para cuidar dos filhos. Assim com o casal, cerca de 3 mil
brasileiros vivem hoje na ilha atraídos pelos bons salários, de
acordo com o diário britânico “Finantial Times”.
O número é expressivo considerando os cerca de 15 mil habitantes da ilha, que podem chegar a 100 mil no verão. Para se ter uma idéia da presença brasileira em Martha’s Vineyard, de todos os bebês nascidos na ilha em 2007, cerca de um terço eram filhos de mães brasileiras, de acordo com o “FT”.
Custo de vida
Mas ao contrário de Obama e outros famosos que freqüentam a ilha no verão, a vida dos brasileiros está longe de ser só sombra e água fresca. É preciso trabalhar duro para se manter num lugar onde o custo de vida é 57% mais alto do que a média dos Estados Unidos, conforme o diário britânico.
Para complementar a renda familiar, junto com a
cunhada, Flávia faz trabalho de decoração em festas infantis.
Por ano, a família tira uma ou duas semanas de férias e viaja
para Boston ou para a Flórida, onde vive uma irmã da brasileira.
Durante o verão americano, no entanto, a lotação na ilha
dificulta a vida dos moradores. “Nessa época, tem que fazer a
reserva para atravessar o carro na balsa um mês antes, ou você
atravessa a pé e aluga um carro do outro lado”, diz.
Passar o verão fora da ilha, no entanto, pode ser
uma boa oportunidade para os moradores. Segundo Flávia, muitos
chegam a alugar suas casas por até US$ 20 mil (quase R$ 40 mil)
por semana. “O lugar em que moro hoje não é nosso, pagamos
aluguel. Se fosse nosso e saíssemos para alugar por temporada, a
gente ganhava dinheiro porque é uma localização boa.”
Além do verão concorrido, a brasileira cita a
grande variação climática como uma das dificuldades de adaptação
no local. Segundo ela, a temperatura que no verão pode chegar
aos 40°C, no inverno atinge mínima de 10°C negativos. “Temos que
aproveitar porque daqui a pouco acaba o verão e ficamos seis
meses em casa por causa do frio”, conta.
Recepção x protestos
Principal porta de acesso à ilha, Vineyard Haven, onde a brasileira vive, está a cerca de 40 minutos de carro de Oak Bluffs, em que fica a propriedade onde a família Obama passará férias. É lá que, segundo Flávia, a maior concentração de brasileiros da ilha prepara uma grande recepção para o presidente. “Esperamos que ele faça a reforma de lei de imigração porque precisa. Na ilha ainda tem uma grande quantidade de brasileiros ilegais”, diz.
Desde que anunciou suas férias no balneário, sete meses após tomar posse, o presidente vem enfrentando críticas. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que mesmo relaxando com a família, Obama manterá seu empenho em prol da reforma da saúde, grande prioridade do seu mandato atualmente.
Em meio à intensa campanha para aprovação da
reforma e a crise econômica, até mesmo ativistas antiguerra
prometem protestos durante o descanso do presidente, segundo o
site “Politico.com”. O próprio Obama disse acreditar que a
opinião pública não o recriminará por tirar férias com as filhas
apesar da crise econômica.
"Penso todos os dias nos problemas que os
americanos enfrentam. O povo pensa que por causa destes
problemas não deveria passar um pouco de tempo com minhas
filhas? Não acho que as coisas sejam assim como os americanos
imaginam", afirmou o presidente em entrevista recente à TV “CBS”.
Quanto aos brasileiros que vivem na ilha, que nos
próximos dias devem viver mais próximos do chefe de Estado mais
influente do mundo, Flávia Cardoso não acredita que consigam
chegar a ver Obama. “Vem muita gente famosa por aqui, mas nós
nem ficamos sabendo. Minha mãe chegou a ver o Clinton quando
estave aqui, em 2003. A gente sabe que eles que estão aqui, mas
é muito difícil ver.”
Fonte: (Por Amauri Arrais - G1.com.br)