Chegou o Classificado do Brazilian Times. Divulgue ou busque produtos e serviços agora mesmo!

Acessar os Classificados

Publicado em 18/12/2015 as 12:00am

O candidato a presidente dos EUA que faz campanha em um caixão

Transhumanistas sonham tornar-se imortais e obter perfeição física por meio de tecnologias como a transferência de sua mente para computadores, manipulação genética e a combinação entre homem e robô.

"Trabalhava para a (revista) National Geographic. Viajava, fazia todas essas coisas legais. Até que, de repente, quase pisei em uma mina no Vietnã", conta Zoltan Istvan, durante nossa conversa no lobby de um hotel a apenas alguns minutos de caminhada da Casa Branca, em Washington.

"Meu guia pulou em cima de mim e me jogou no chão, salvando minha vida. Foi quando decidi que era o momento de me dedicar a parar a morte. Deter a morte para mim e para as pessoas que eu amo".

Esta é a origem de um dos mais excêntricos participantes da corrida presidencial dos Estados Unidos rumo às eleições de 2016.

Em meio à cobertura das controvérsias provocadas pelo pré-candidato republicano Donald Trump ou os debates entre os democratas Hillary Clinton e Bernie Sanders, Istvan vem fazendo uma pouco usual campanha independente. O escritor, filosofo e vidente lidera o Partido Transhumanista, um movimento que vê na tecnologia um poder para transformar corpo e mente.

'Neo-reacionário'

Transhumanistas sonham tornar-se imortais e obter perfeição física por meio de tecnologias como a transferência de sua mente para computadores, manipulação genética e a combinação entre homem e robô.

Querem que a humanidade evolua para uma raça de super-seres pós-humanos. Enquanto outros candidatos disputam quem sabe mais lidar com problemas econômicos ou inimigos estrangeiros como o grupo autodenominado Estado Islâmico, Istvan que trazer objetivos mais ambiciosos para o debate junto ao eleitorado americano: ele quer erradicar a morte.

Atualmente, o escritor faz um tour pelos EUA a bordo do "Ônibus da Imortalidade", um veículo escolar adaptado para parecer um imenso caixão sobre rodas. Foi pago por meio de uma campanha de arrecadação de fundos pela internet. Istvan fez tudo isso para disseminar sua visão para o movimento transhumanista. E tem conseguido, a julgar pela quantidade de vezes em que apareceu na mídia americana e internacional recentemente.

Em agosto, antes do início de sua turnê, Istvan conversou com a BBC em Washington para descobrir se ele realmente leva a sério o que propõe.

"Meu interesse sempre foi o tipo de ciência que pode fazer com que vivamos mais. O episódio no Vietnã foi como se uma bomba filosófica explodira em minha cabeça. Concluí que precisava usar todas as minhas habilidades para contribuir com esse movimento. Este é um movimento para que não morramos".

Istvan largou o jornalismo e se dedicou a escrever um livro (A Aposta Transhumanista). O livro, que levou cinco anos para ser escrito, conta história de Jehtro Knights, um filósofo que faz campanha contra a democracia tradicional e se torna uma espécie de ditador mundial, no topo de um regime transhumanista. Lembra um pouco o movimento neo-reacionário, de tendência de extrema-direita, que defende a volta de monarquias hereditárias como sistema de governo diante do que vê como falha do regime democrático. De qualquer forma, não se trata de algo um pouco preocupante para quem quer ser presidente?

"Tenho me distanciado do livro há pelo menos um ano. Conheço bem o movimento neo-reacionário e não gosto de muitas de suas políticas. Mas concordo com suas ideias sobre monarquias. Um ditador benevolente pode ser ótimo para um país", explica.

É um pouco surpreendente ouvir um candidato à Presidência de um país conhecido por suas tradições democráticas falando nisso. Mas isso é típico de Istvan: há sempre um outro ângulo.

"Por isso é que defendo que alguma forma de inteligência artificial seja presidente um dia. Se tivéssemos uma entidade verdadeiramente altruísta que zelasse pelos melhores interesses da sociedade, talvez fosse benéfico abrirmos mãos de algumas liberdades. O que ocorreu no passado é que tínhamos ditadores egoístas e que fizeram um trabalho horrendo governando países", argumenta.

Acesso

Chega a hora do primeiro compromisso do candidato: uma café da manhã com militantes da sede de Washington do Partido Transhumanista. Na verdade, seis homens de meia-idade, cinco deles brancos. É uma hora meio constrangedora e que revela, por mais incrível que possa parecer, divisões internas no partido e questionamentos à liderança de Istvan. Mas ele diz não se incomodar.

"O objetivo real aqui é fazer com que milhões e milhões de pessoas considerem assuntos como a longevidade, o transhumanismo e o uso de ciborgues. E, principalmente se querem verem governantes apoiando políticas nessas áreas. Precisamos mudar a cultura da América", explica.

Mas o preço dessas tecnologias não seria proibitivo para os mais pobres?

"Tento fazer com que o partido fique o mais perto possível do centro político, porque não queremos que apenas os ricos se beneficiem dessas tecnologias. Seja em questões como o aumento da inteligência ou fertilização artificial customizada, precisamos de planos de governo que assegurem que essas tecnologias sejam abertas e gratuitas".

Istvan afirma não ser socialista, mas que defende a universalidade de acesso, além de plataformas de cunho mais esquerdista, com um salário básico universal. "Humanos vão começar a perder trabalho para robôs e precisamos de programas de transferência de renda para que as pessoas sobrevivam. Também defendemos escolas gratuitas e educação compulsória até a universidade".

E como pagar por isso? Istvan vê a solução em uma reorganização orçamentária, realocando para a educação gastos com prisões e defesa. Mas também investiria em um programa de vigilância usando robôs e drones. "Isso nos ajudaria a evitar encarceramentos, mas também poderia fazer com que máquinas - em vez de humanos - vigiassem os detentos".

Aos 42 anos, Istvan fala com muita segurança sobre o que vê como uma realidade futurística bem próxima. "Não quer dizer que as coisas vão acontecer exatamente no tempo em que prevejo, mas há cinco anos nenhum de nós falaria em impressões 3D, por exemplo. É um tipo de tecnologia que, assim como a internet, pode impulsionar muitas indústrias nascentes. Ao mesmo tempo, até hoje não vi ninguém usando mochilas voadoras. Mas temos que confiar no potencial da transformação tecnológica".

O escritor, porém, não é tão otimista quando fala de suas chances nas eleições. "Não há chance alguma de ganharmos agora. Mas quem sabe não consigo um cargo como consultor para assuntos tecnológicos", especula Istvan, que conta ter oferecido seus serviços à campanha de Hillary Clinton – ele só não conta quais foram as respostas.

Mais tarde, quando nos despedimos, ele pergunta se minha reportagem vai lhe causar problemas. Se fosse o caso de um político convencional, talvez. Mas Zoltan Istvan é tudo menos um político tradicional...

Fonte: bbc.com/portuguese

Top News