Publicado em 16/03/2012 as 12:00am
Nos EUA, homem que sumiu com prêmio de bolão de loteria terá que dividir o dinheiro
Quando amigos brigam por US$ 38,5 milhões
Quando amigos brigam por US$ 38,5 milhões (aproximadamente R$ 69,3 milhões) em prêmios de loteria, há algumas reviravoltas sombrias no roteiro, inevitáveis, talvez. Os amigos, funcionários da construção civil de Nova Jersey, contaram que faziam bolão para apostar na loteria há anos. Cinco deles confiavam em um dos integrantes de seu pequeno grupo, Americo Lopes, para comprar os bilhetes.
Em novembro de 2009, ele coletou o dinheiro e comprou um bilhete da
loteria Mega Millions, que foi premiado. Mas ele não contou isso a
ninguém, exceto aos funcionários da loteria. Descontou o bilhete como se
fosse apenas seu. A loteria deduziu os impostos e enviou a Lopes um
cheque de US$ 17,4 milhões. Ele, então, largou o emprego dizendo que
precisava fazer uma cirurgia no pé.
“Nós acreditamos nele”, disse um dos outros homens, José Sousa. E
acreditaram até vários meses depois, quando Lopes contou a outro
integrante do grupo que havia ganhado na loteria uma semana depois de
parar de trabalhar. À medida que a notícia de sua sorte se espalhou,
outro amigo checou um site, encontrou o nome de Lopes e descobriu a data
em que ele havia sido contemplado.
Na última quarta-feira (14), um júri de Union County, Nova Jersey,
ordenou que Lopes compartilhasse o prêmio com os cinco ex-colegas de
trabalho. Lopes não parecia estar feliz; segundo o jornal “The
Star-Ledger”, de Newark, ele teria dito: “eles me roubaram”.
O caso foi baseado, em grande parte, em provas circunstanciais e, em
determinados momentos, emocionais. Se o julgamento sugere alguma
semelhança com “Isso Poderia Acontecer com Você”, um filme inspirado em
uma gorjeta generosa de um vencedor da loteria para uma garçonete, as
audiências provaram o contrário: houve testemunhos de avareza, mentiras e
amizade traída.
“Nós confiávamos nele”, disse Sousa, 46, na quarta-feira. “Ele nos
traiu.” Sobre a decisão do júri, ele disse: “Nós provamos que não
estamos mentindo. Isso é o mais importante.”
O advogado de Lopes, Michael D. Mezzacca, não retornou os telefonemas
para comentar a matéria. Durante o julgamento, ele disse que a falta de
registros escritos colocou dúvidas sobre a alegação dos colegas de
trabalho de Lopes. Segundo ele, como o grupo não documentava quem tinha
comprado o que, ninguém poderia dizer com certeza quem de fato havia
pago pelo bilhete vencedor.
Lopes, 52, sustentou durante o julgamento que havia comprado o bilhete
vencedor por conta própria, separado de qualquer bilhete que ele tenha
comprado para o grupo. Ele disse que costumava comprar bilhetes para o
grupo e para ele ao mesmo tempo. A mulher de Lopes, Margarida, confirmou
que Lopes ligou para um dos homens do grupo em março de 2010 e falou
que havia ganhado a loteria. Ela disse que o homem, Daniel Esteves,
chorou ao ouvir a notícia.
Outro funcionário, Candido Silva, 61, chorou no banco das testemunhas.
Seu filho, Candido Silva Jr., 36, que também faz parte do grupo, disse
que o caso vem sendo estressante, mas que o veredito foi o que ele e os
outros esperavam. “Se você tem a consciência tranquila, não tem nada com
o que se preocupar”, disse Silva Jr. enquanto ele e seus colegas
terminavam um almoço português de bacalhau e vinho em comemoração ao
resultado, no restaurante Elizabeth, em Nova Jersey.
Os cinco disseram que conheciam Lopes há anos e que se consideravam
amigos próximos. Silva disse que, em 2008 --bem antes da confusão por
causa do bilhete--, ajudou a consertar uma casa que Lopes havia
comprado. Ele disse que os dois trabalharam juntos na fachada. E na
calçada. E no porão. Silva disse, assim como falou ao tribunal, que via
Lopes como um filho.
Sousa disse que eles eram tão próximos que Lopes foi ao batizado de sua
filha há cinco anos e que ainda estava chateado com o fato de Lopes ter
testemunhado, em tribunal, que os seis homens não eram amigos.
O dinheiro foi congelado logo depois que os homens entraram com o
processo, em 2010. Por enquanto, eles não estão planejando nenhuma
grande mudança de estilo de vida e dizem que tirarão duas semanas de
férias, mas que provavelmente voltarão a trabalhar com a equipe de
construção de estradas que antes incluía Lopes.
O bilhete deles não foi o único premiado pela loteria de US$ 77
milhões; outra apostadora, identificada como Lourdes Salinas, de South
San Francisco, apostou exatamente nos mesmos números para a extração de
10 de novembro de 2009. Sua parte do prêmio não foi afetada pela decisão
do júri em Nova Jersey.
O veredito não surpreendeu as pessoas na loja de conveniência em Union,
Nova Jersey, onde Lopes comprou o bilhete. Um cliente da loja, que era
da franquia BuyRite em 2009 e hoje é da Magie Mart Food Store and Deli,
disse que a disputa reforçou a forma como ele próprio lida com a
loteria. “Eu jogo sozinho porque não confio nas pessoas”, declarou o
homem, que disse se identificar apenas como Sean, contando que
regularmente jogava nas loterias New Jersey Pick 3 e Pick 6, além da
Mega Millions. “Se eu fiquei chocado por ele ter tentado ficar com o
dinheiro só para si? Não. É a natureza humana.”
Eric Kahn, advogado dos ex-colegas de Lopes, disse que alguns detalhes
precisam ser acertados, e um deles é o quanto cada homem receberá e
quanto cada um deverá pagar em impostos. “A loteria o pagou”, disse
Kahn, referindo-se a Lopes, “e a loteria ficou com uma boa parte de
impostos. “Precisamos definir os impostos”, disse ele.
Fonte: (da uol)