Publicado em 13/04/2015 as 12:00am
Visita de Dilma aos EUA indica superação da tensão por espionagem
"Reconhecemos as ações tomadas e que levaram os Estados Unidos a dizer que os países amigos não serão espionados", disse a presidenta, que irá em junho aos EUA
Os presidentes de Estados Unidos e Brasil anunciaram, neste sábado, a visita à margem da VII Cúpula das Américas, celebrada no Panamá.
"Reconhecemos as ações tomadas ao longo de vários meses e que levaram os Estados Unidos a dizer que os países amigos não serão espionados", disse Dilma a jornalistas depois de um encontro bilateral com Obama.
"O presidente Obama me disse que quando quer saber alguma coisa (sobre o Brasil), me liga. Eu inclusive fico feliz quando liga", comentou, em meio a risos.
O convite tinha sido feito pelo vice-presidente americano Joe Biden no mês passado, durante telefonema, numa tentativa de recompor a relação bilateral, abalada por revelações de espionagem contra a presidente Dilma em 2013.
Estas denúncias, feitas pelo ex-analista da agência de segurança nacional (NSA) dos Estados Unidos, Edward Snowden, levaram Dilma a suspender uma visita à capital americana, prevista para outubro de 2013.
As revelações indicavam que os Estados Unidos tinham espionado as comunicações de milhões de brasileiros, assim como empresas, entre elas a Petrobras, além da própria presidente Dilma e de vários de seus assessores.
Na época, o Brasil exigiu uma investigação, explicações e o compromisso americano de parar com a espionagem para possibilitar uma visita de Dilma.
Desde o incidente, um dos golpes mais duros à relação bilateral nas últimas três décadas, Brasília e Washington tentaram reagendar o encontro, com uma ativa participação do vice-presidente Biden neste processo.
Obama enviou Biden várias vezes ao Brasil com a missão de suavizar a tensão, e o vice-presidente americano compareceu, em janeiro, à posse de Dilma para o segundo mandato.
O encontro de 2013 estava programado como uma visita de Estado, o de mais alto nível no âmbito internacional, mas a nova reunião será "de governo", mais curta e que contempla menos cerimônias.
A visita de Dilma será a primeira de um chefe de Estado brasileiro em 20 anos a Washington, depois da feita em 1995 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ocorre em um momento em que o Brasil vive turbulências econômicas e políticas, com um fraco crescimento e aumento do desemprego e da inflação, tendo o escândalo de corrupção na Petrobras como pano de fundo.
"O Brasil está em crise e precisa vender; os Estados Unidos estão em expansão e precisa comprar, então é um casamento por conveniência econômica", explicou à AFP o analista brasileiro Marcelo Rech, do Inforel, Instituto de Relações Exteriores e Defesa.
Segundo Rech, Dilma tem interesse a celebrar uma reunião "pragmática" com Obama, que se concentre em buscar mercados para os produtos brasileiros.
Ao contrário, disse, a presidente brasileira não tem interesse nas questões geopolíticas e baixou o perfil da diplomacia brasileira em comparação com seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), que seguiu uma política externa ativista.
Entretanto, disse, os Estados Unidos buscam no Brasil um parceiro que ajude a manter a estabilidade nas Américas, os ajude a se aproximar da Venezuela e apoiem as negociações de paz na Colômbia.
A jornalistas no Panamá, Dilma declarou que espera impulsionar programas de intercâmbio com universidades americanas, reconhecendo que o país tem centros de pesquisa acadêmica que estão entre os mais avançados do mundo.
Obama, por sua vez, destacou o interesse em fortalecer a cooperação com o Brasil em áreas de mudanças climáticas, promoção do crescimento econômica, defesa, ciência e tecnologia, disse Bernadette Meehan, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano.
Dilma declarou a intenção de fomentar a cooperação na área da energia, particularmente em fontes solares, que pretende aproveitar para usar em residências de interesse social.
Fonte: Da Redação