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Publicado em 7/07/2023 as 10:00am

Amando em Língua Estrangeira: Como Ser Feliz num Relacionamento Intercultural

Coluna Viver Bem em NY por Liza Andrews


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Vimos na edição anterior, fatores que podem destruir relacionamentos interculturais. Assim como formas de transformar o que era estranho em familiar, gerando felicidade e crescimento pessoal. Os entrevistados dessa semana trazem novas experiências, e dicas para se viver melhor com um parceiro estrangeiro.

Diversidade e restrições de consumo

 Se você adora experimentar novas culinárias, um relacionamento intercultural pode ser uma aventura gastronômica incrível. Você irá experimentar a cozinha de outro país, com frequência, e preparada por nativos do local. Em Nova Iorque, assim como em outras cidades cosmopolitas dos E.U.A e do mundo, há muitos estrangeiros ou filhos de imigrantes: italianos, gregos, franceses, russos, indianos. A variedade é imensa, e alguns brasileiros vivendo aqui acabam se apaixonando pela comida da cultura de seu parceiro, a ponto de aprender receitas e adotá-la como base de suas refeições diárias.

Por outro lado, o segundo maior problema apontado por casais entrevistados é quando aspectos

da religião ou cultura do parceiro proíbem o consumo de certos alimentos, álcool e fumo.  Pela pessoa certa, muitos de nós vão tentar se adaptar às restrições, e no inicío, os benefícios parecerão valer a pena. Porém, terapeutas de casais advertem que com o tempo e os desgastes do dia a dia, nossa tolerância tende a diminuir. O que antes parecia aceitável, causará pequenos desentendimentos que, no longo prazo,  podem se tornar crônicos e levar ao fim do relacionamento. Principalmente, se o futuro envolver conflito na criação dos filhos. 

Desde o namoro, Lidia, uma goiana casada com um americano vegano, concordou em acomodar parcialmente o estilo de vida do atual marido. "Eu adoro bichos e eliminar a carne da minha alimentação ia me ajudar a melhorar minha saúde, então topei virar vegetariana. Não vegana."

Simon—que nem comia ovos e laticínios—fazia vista grossa quando Lidia preparava um omelete ou deliciava uma tábua de queijos com seu vinho. Mas seis meses atrás, ela me disse que sentiu vontade de ir a uma churrascaria com os amigos para, como ela disse, "Matar a saudade da picanha brasileira."

Lidia acabou não curtindo a ocasião, preocupada que alguém postasse uma foto e o marido descobrisse o que ela tinha feito. "Me senti uma criminosa. Cheguei em casa e conversei com ele. Tava contando com uma briga, mas depois de uma pausa, ele disse que desde que eu não comesse carne na nossa casa, minhas escolhas eram minhas. Foi um alívio!"

Lidia teve sorte. Seu marido parecia tão comprometido em fazer o casamento funcionar quanto ela, e estava disposto a fazer acomodações. Já um caso envolvendo comida e religião, teve um final diferente. Sandra namorou um chef vegano americano, que gradativamente começou a restringir sua alimentação.          

No inicío, ele fazia isso com charme. Falava que suas crenças tinham determinado sua carreira, e cozinhava tão bem que segundo Sandra, foi fácil fazer substituições. "Ele preparava pratos incríveis pra mim, como pato defumado e lagosta veganos!" Mas depois de uns meses de namoro, ele se mostrou radical.

Sandra contou que numa festa de amigos brasileiros, ela estava louca pra comer croquetes de camarão e coxinhas. Provou somente as bolinhas de queijo–que pelo menos, não tinham carnes–e seu namorado falou na frente de todo mundo, "Ela tem suas recaídas, mas sei que irá se redimir."  Sandra terminou o namoro na mesma noite. "Recaídas? Me redimir? Ele falou sobre eu comer queijo como se eu fosse uma viciada em drogas! Eu tava apaixonada, mas parei por ali."

Dica: Normalmente, hábitos alimentares, ingestão de bebidas, drogas e tabaco aparecem logo nos primeiros encontros. Por mais que a pessoa seja interessante e atraente, não passe panos quentes se vir algo que lhe pareça radical. Sem medo de parecer intrusivo, pergunte ao seu interesse romântico detalhes sobre seus hábitos, e o impacto que tiveram em seus relacionamentos anteriores. A qualidade das respostas, e até mesmo a linguagem corporal da pessoa, lhe darão pistas sobre quão radicais são suas convicções. Tome suas decisões ali. Será menos doloroso desistir no começo, do que após estar apaixonado. Se você já estiver emocionalmente investido, avalie se no longo prazo, você conseguirá continuar acomodando regras radicais. Mais importante ainda, se conseguirá impor tais regras aos seus filhos.

Viagens internacionais

Um ponto comum em casamentos interculturais é a necessidade de visitar o país de origem de seu parceiro. Isso pode ser uma oportunidade maravilhosa de fazer viagens internacionais, adquirir uma cidadania extra e muitas vezes,  conhecer lugares e tradições que você nunca havia considerado.

Por outro lado, de acordo com George, um nova-iorquino casado com uma brasileira, o fato da família da esposa viver no Brasil tornou-se um desafio. "Conheci Carla quando ela trabalhava temporariamente numa empresa brasileira aqui. Nos casamos e funcionou bem no inicío. Agora, 5 anos depois, brigamos muito, pois ela quer passar todas as nossas férias em Curitiba."

Quando perguntei à Carla se ela via uma outra solução para o problema, ela disse, "Infelizmente não. Com a mesma intensidade que amo o meu marido, tenho sentido falta da minha terra. Meus pais tão envelhecendo. Se moro o ano todo aqui, acho justo passar um mês no Brasil."

Dica: Se você não tem parentes perto de você, se esforce para arranjar amigos que partilhem sua cultura. Por mais que seu parceiro se esforce, em alguns momentos, somente um amigo que cresceu com a mesma memória coletiva será capaz de entender certas piadas, ou partilhar as mesmas nostalgias. Desta forma, mesmo que você sinta saudade de casa, se sentirá menos incompreendido.

 Mais do que saudade da família que ficou na terra natal, o conflito descrito por Carla é uma necessidade de retorno às origens. Ocorre frequentemente com brasileiros que não têm uma comunidade no exterior, e o mundo deles se torna o do cônjuge. Isso pode levar ao problema seguinte.

Identidade

Você já está num país onde a língua, as regras, e muitas vezes, até o clima são diferentes dos da sua terra natal. Se viver com seu parceiro exigir mais adaptações, e você não tiver oportunidades de praticar as tradições com que cresceu, sua  identidade será comprometida.

Em relacionamentos interculturais, é vital equilibrar a balança. Do contrário, a parte defasada poderá se anular completamente, sofrendo danos emocionais e psicológicos; ou em algum momento, tomará decisões não-negociáveis como a da brasileira Carla. "Estou ciente do risco de perder meu casamento se não passarmos mais nossas férias juntos. Mas também não posso me perder."

Dica: Uma forma de envolver o parceiro estrangeiro e facilitar o equilíbrio intercultural é compartilhar as coisas maravilhosas que fazem parte de sua terra natal e sua cultura. Dê ao seu parceiro —e aos amigos e familiares dele —uma experiência divertida e prazeirosa da comida, idioma e tradições que você segue. Se gostar de viajar constantemente pra ver sua família, intrigue seu parceiro e os que ele ama com fotos e vídeos fascinates, e convide-os para aventuras turísticas no seu país.

Idioma

Um dos grandes benefícios de um casamento intercultural é que você tenderá a aprender um novo idioma para se comunicar melhor com seu parceiro e filhos.

Embora aprender um novo idioma possa ser difícil para um adulto, o cérebro é uma máquina surpreendente, e o contato diário com a língua acabará facilitando a fluência. Irene, uma carioca morando em Manhattan há dez anos, disse que conheceu seu atual marido quando chegou aqui. Eles se viram numa festa e a conexão foi imediata, só que ela não falava inglês.

"Não foi fácil," disse Irene.  "Nos comunicávamos por gestos, palavras soltas que eu sabia." Ela riu. "O coitado chegou a desenhar em guardanapos para eu entender." Muito simpático, e ainda claramente apaixonado, Peter me disse, "Quando uma situação complicada acontece com alguém trivial, a gente encontra mil desculpas pra desistir. Mas quando estamos interessados, encontramos pelo menos uma forma de fazer a coisa funcionar."

Dica: Embora Peter fosse extremamente paciente, Irene sabia que recursos visuais não dariam conta da comunicação, e começou um curso intensivo de inglês. Segundo ela, valeu a pena investir em aulas, pois falar o mesmo idioma do parceiro facilita não apenas a comunicação básica, mas as interações emocionais. Outro enorme benefício de aprender a língua do parceiro é conseguir ter conversas fluentes com a família e os amigos dele. Isso te ajudará a se representar melhor, e ter impressões realistas sobre as opiniões dessas pessoas sobre você.

Com tudo isso a considerar, será que vale a pena tentar um relacionamento intercultural? De acordo com o Dr. David Ludden, professor de psicologia da Universidade Gwinnett, na Georgia, casamentos interculturais funcionam, desde que os casais tenham uma atitude aberta em relação às diferenças culturais, e estejam dispostos a se comprometer. A maioria dos entrevistados concordou que o que agrava ou atenua os choques culturais são fatores mais profundos, como a rigidez de opiniões e o desejo de fazer o casamento funcionar. A profundidade e a amplitude da intimidade do casal asseguram o seu vínculo. Algumas pessoas se casam porque gostam da idéia de estarem casados. Estes tendem a lutar mais para o relacionamento dar certo. Já os que se casam no fervor da paixão, e sob influência ou pressão social, terão mais facilidade de desistir quando o relacionamento se tornar desafiador ou inconveniente.

Dica final: O casal Irene e Peter, entrevistados sobre barreira lingüística, aconselham agarrar-se às semelhanças e trabalhar para superar ou aceitar as diferenças. "Somos muito apaixonados um pelo outro," disse Irene, "Mas também compartilhamos algo vital: o desejo de ter um casamento duradouro. Isso facilitou muito." Peter acrescentou, "O que constrói ou destrói um relacionamento é sem dúvida, a comunicação. Diga claramente o que você espera, e ouça com atenção para compreender a outra pessoa, literal e emocionalmente. Não tire conclusões precipitadas, pois além dos fatores culturais, nuances da mensagem podem se perder na tradução.

Muita gente vem para Nova Iorque almejando trabalhar na indústria da beleza. Na próxima edição, a coluna Viver Bem em Nova Iorque vai mostrar que esse sonho não é apenas para os que possuem anos de experiência, ou muito dinheiro para investir. Em entrevista exclusiva, brasileiros que tentaram a sorte no ramo vão contar os segredos que aprenderam, o que valeu a pena, se é mais vantajoso montar seu negócio ou trabalhar para empresas estabelecidas, e muito mais.

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