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Publicado em 2/05/2016 as 5:00pm

Brasileiras levam solidariedade aos moradores de rua de NYC

De acordo com o NYC Department of Homeless Services and Human Resources Administration o número de moradores de rua em NYC, que utilizam os abrigos para dormir, está na casa dos 60.000

De acordo com o NYC Department of Homeless Services and Human Resources Administration o número de moradores de rua em NYC, que utilizam os abrigos para dormir, está na casa dos 60.000, fora isso, há pela cidade milhares de pessoas dormindo nas ruas de New York. Este é o maior índice dos últimos dez anos, cerca de 92% a mais. 

Este grande número de pessoas pelas ruas tem chamado a atenção de quem transita diariamente por ali e algumas brasileiras decidiram se juntar a grupos de solidariedade, ou mesmo criar suas próprias ações solidárias, para poder proporcionar momentos de alegria para estas pessoas.

Paula Alves, que há alguns anos participa de eventos e corridas em prol de ONG's, viu um post em uma comunidade de brasileiros que vivem em NY e achou a ideia interessante. A ideia era juntar alguns artigos que a pessoa não usa mais, colocar junto produtos de higiene pessoal e doar a bolsa para uma moradora de rua. "Depois de ler o artigo eu fiquei pensando nas tantas coisas pequenas que temos e usufruímos no dia a dia às quais não damos devido valor. Eu, pessoalmente, não acredito que seja falta de gratidão, mas sim comodismo ou simplesmente força do hábito. Muitas de nós, e eu me incluo nesse número, já passamos dificuldades, ainda mais estando num país estrangeiro, e eu jamais vou esquecer os pequenos atos de pessoas ao meu redor que fizeram com que eu me reerguesse e seguisse adiante. Uma palavra amiga, um empurrão e por que não, até uma ajuda material. Então pensando nisso, eu resolvi aproveitar minha troca de estação no guarda-roupas e juntei alguns artigos que estavam ainda em bom estado mas que já não usava há muito tempo. Juntei pasta e escova de dentes, sabonete, creme para o corpo, perfume, alguns brincos e pulseiras, artigos femininos de higiene, uma manta bem quentinha, um casaquinho de lá, e coloquei numa bolsa de couro que já não usava mais".

Como era um dia chuvoso, foi difícil achar alguém de imediato pelas ruas da cidade, foi então que a brasileira avistou uma senhora. "A chuva já estava passando, mas eu notei que ela estava ainda molhada. Ela carregava uma bolsa desbotada pendurada no ombro e fazia anotações num caderninho enquanto olhava para o topo do Freedom Tower, tinha um sorriso desprendido das dificuldades que sua aparência e postura traduziam àqueles que a observavam. Mil coisas passaram na minha cabeça, eu quase perdi a coragem ao pensar que de alguma maneira ela poderia se ofender com a minha oferta. Enfim, juntei minha coragem e com foco na minha missão eu a chamei: 'senhora?' Ela me olhou curiosa e perguntou se eu estava chamando ela mesmo, ao confirmar ela se aproximou cautelosa e eu perguntei se ela gostaria de receber a minha bolsa como presente. Naquele momento eu acho que nós duas ficamos presas num segundo como se fosse um ano inteiro! Ela, não querendo acreditar perguntou se eu tinha certeza, eu disse que sim, que ela poderia ficar não só com a bolsa mas com tudo que havia dentro, que ela fizesse bom proveito. Ela então estendeu as mãos para receber o inesperado presente, sorriu, e me disse que finalmente poderia se livrar daquela velha, despedaçada bolsa que carregava há tanto tempo! Eu apenas sorri e me despedi. Eu gostaria de ter ficado e aprendido mais sobre aquela senhora, mas, no fundo, sou grata por só saber o necessário e o principal: eu fiz a diferença naquele momento. Eu espero que dividindo minha experiência mais pessoas pensem a respeito, e sintam-se encorajadas a levar a corrente do bem adiante. Fazer o bem, sem olhar a quem" finaliza Paula.

Na mesma linha de solidariedade estão as brasileiras Claudia Maia e Beatrice Oliveira, ambas participam de um grupo, que se reúne semanalmente para entregar alimentos aos moradores de rua. "Tenho ido desde fevereiro nesse trabalho voluntário com moradores de rua. A intenção não é só dar algo material tipo lanche, água, cobertor e luvas. O material é um gancho para nós chegarmos a eles. A intenção é criar uma relação, e é aí que muda tudo pois temos que começar a aprender a ouvir, sem julgar, ser amigável sem esperar nada só para fazer alguém se sentir melhor, sabemos os nomes e muitas histórias de muitos deles (fazemos inclusive um diário para acompanhar). Não sendo obrigatório e o objetivo final sempre que sentimos necessidade e abertura podemos fazer uma oração e convidar para ir a igreja onde normalmente serão recebido com muito amor", esclarece Claudia Maia.

Para a jovem Beatrice, semana passada foi o primeiro dia neste trabalho voluntário e ela comenta a satisfação de poder fazer a diferença na vida de alguém. "Eu sempre tive vontade de fazer algum trabalho voluntário, ajudar alguém e me sentir fazendo parte de algo maior. Ir nas ruas de Nova Iorque com outras pessoas que partilhavam dessa mesma vontade e distribuir alimentos para quem precisa foi uma experiência enriquecedora espiritualmente e humanamente. Tive a oportunidade de praticar a generosidade e amor pelo próximo com um gesto simples mas que tenho certeza que para aquelas pessoas necessitadas fez uma grande diferença naquele dia".

Em conversa com alguns moradores de rua, nossa redação constatou a diferença que isso faz. "É muito bom receber essa atenção", comentou um senhor que aparentava estar na casa dos 50 anos de idade.

Outros dois que nos permitiram tirar fotos de suas "camas", mas não de seus rostos, comentaram que dormem nas ruas pois os abrigos são perigosos. "Vimos o que aconteceu outro dia e ficamos preocupados, o assassinato no abrigo foi algo muito sério. Há algum tempo não uso o obrigo, tenho medo, mas também tenho medo de morar nas ruas" comentou o senhor.

O assassinato ao qual se referia era do brasileiro Marcus Guerreiro, 55 anos, morto em sua cama em um abrigo do Brooklyn.

Mesmo um pouco apreensivos, eles recebem os pequenos donativos e as curtas conversas os fazem sentir melhor. Ambos se apresentaram bem conscientes e disseram que nos abrigos há muitos loucos, inclusive nos orientou a ter cautela ao se aproximar de alguns moradores de rua, pois eles podem ter algum problema mental.

Gratos pelo nosso gesto, voltaram a organizar o que seria seu leito naquela noite, caixas de papelão dispostas em sequência formando um túnel no qual iriam dormir.

Fonte: Marisa Abel

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