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BT entrevista Lorena Rocha, psicóloga brasileira no sistema prisional dos EUA

Aos 19 anos, Lorena Rocha deixou Goiânia ao lado da mãe com um plano simples:


Aos 19 anos, Lorena Rocha deixou Goiânia ao lado da mãe com um plano simples: passar um ano nos Estados Unidos para tentar uma vida melhor. Estava no início da faculdade de Direito e não imaginava que, décadas depois, ainda estaria no país – agora como mestre em saúde mental, terapeuta clínica no sistema correcional e referência para a comunidade brasileira em Massachusetts.

Com formação acadêmica de excelência, Lorena atua diretamente com a polícia e com internos em uma penitenciária especializada no tratamento de criminosos sexuais. Sempre com um diferencial: sua capacidade de atender em português e espanhol, rompendo a barreira linguística que tantos enfrentam na busca por tratamento psicológico adequado. Com sensibilidade e firmeza, ela trabalha para que transtornos mentais sejam tratados com humanidade, mesmo dentro das instituições mais rígidas do sistema penal americano.

Conversamos com Lorena para entender melhor sua história e os bastidores do seu trabalho.

BT- Você mora atualmente em Abington, Massachusetts. Pode nos contar como foi sair de Goiânia e o que motivou essa mudança?

Lorena Rocha – Vim para os Estados Unidos em 1999 com a minha mãe. Estava no primeiro semestre da faculdade de Direito quando decidimos tentar uma vida melhor. Como muitos imigrantes, a ideia era ficar apenas um ano, mas a vida foi tomando outro rumo e estou aqui até hoje.

BT- Como foi sua trajetória até se tornar psicóloga?

Lorena Rocha – No início, fui para a escola aqui e fiz um curso de intérprete. Trabalhei muitos anos em hospitais e clínicas como intérprete médica. Foi nesse contexto que me interessei cada vez mais pela área da saúde, o que me levou a cursar Psicologia. Fiz meu bacharelado e, mais tarde, o mestrado em Saúde Mental no Cambridge College. Me apaixonei completamente pela profissão.

BT- E como surgiu a oportunidade de atuar com a polícia e no sistema prisional?

Lorena Rocha – Sempre estive envolvida com a comunidade. Depois de trabalhar em um hospital psiquiátrico, surgiu a chance de atuar com a polícia. Hoje sou Police Co-response clinician para a polícia de Plymouth. Trabalho diretamente na viatura, ao lado dos policiais, atendendo chamadas que envolvem crises de saúde mental. Meu papel é avaliar essas situações e tentar garantir que a pessoa receba tratamento, ao invés de ser levada à prisão, quando isso não é necessário.

BT- E agora você está iniciando também um trabalho como terapeuta clínica na prisão de Bridgewater. O que envolve essa nova função?

Lorena Rocha – Sim, estou começando essa nova etapa. Vou trabalhar com presos que cometeram ofensas sexuais, tanto os condenados quanto os que estão em processo civil. Farei terapia individual e em grupo, além de avaliações clínicas, elaboração de planos de tratamento e colaboração com uma equipe multidisciplinar. O foco é a reabilitação e a gestão de riscos — sempre com o olhar clínico e o compromisso com a ética e o cuidado.

BT- Como funciona, na prática, sua atuação tanto com a polícia quanto no presídio?

Lorena Rocha – Com a polícia, participo da triagem das chamadas para identificar se há crises de saúde mental e qual é a melhor forma de intervir: hospitalização, encaminhamento ou outro tipo de suporte. Na cadeia, o trabalho é mais voltado à psicoterapia, com sessões individuais e em grupo. Em ambos os contextos, atendo muitos brasileiros e hispânicos, pois minha fluência em português e espanhol ajuda bastante com quem tem dificuldade com o inglês.

BT-Você também tem planos de abrir um consultório particular, certo?

Lorena Rocha – Sim, estou com a prova de licenciamento estadual marcada para outubro. Quando estiver licenciada, vou poder atender pelos seguros de saúde, o que é muito importante, pois sei como é difícil para muitos imigrantes pagar por terapia particular. Meu sonho é abrir meu próprio consultório e continuar atendendo nossa comunidade com dignidade e acolhimento.

BT- Qual é o sentimento ao olhar para essa trajetória?

Lorena Rocha – Tenho muito orgulho. Cheguei aqui com uma mala na mão, como tantos outros. Hoje sou mestre em saúde mental e trabalho em duas frentes muito importantes. Espero poder inspirar outras pessoas com a minha história e continuar contribuindo para a nossa comunidade com tudo que aprendi.

Instagram: @psi.lorena.rocha

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